Search
Close this search box.

Como o Vitória teve os seus jogos de futebol transmitidos na íntegra

No passado, a crônica esportiva baiana não cobria os jogos do Vitória na íntegra. E nem dividia as jornadas quando o Bahia jogava. As transmissões eram feitas na íntegra dos jogos do Bahia, e quando os jogos eram em paralelo (disputados no mesmo horário) quem estava narrando jogos do Vitória se limitava a entrar no giro do placar e em lances para narrar os gols.

Lembro que na década de 80, eu estava na Rádio Clube e um dia recebi uma ligação do saudoso Manelito Lima, grande desportista, pai do advogado Alfredo Lima, entre outros. Ele trabalhava na Sudesb, um órgão estadual, ligado à Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social, e perguntou se eu podia ir lá falar com ele.

Na época, o órgão ficava na Ladeira da Fonte Nova. E fui ao encontro do meu amigo, Manelito.

– Mário Freitas, estava lhe ouvindo ontem. Você em Itabuna, só informava o tempo do jogo do Vitória e narrava os gols. Já o outro Mário (era o Mário Lima, atualmente em Criciúma) estava em Alagoinhas e narrava o jogo todo do Bahia. Isso não é certo.

– Mané, amigo, estou cumprindo ordens da chefia do departamento de esportes. Mas vou levar esta reclamação sua para o responsável.

Dito e feito. Cheguei na Rádio Clube (a sede ficava ali no bairro de Nazaré, vizinha ao Colégio Severino Vieira), chamei o chefe (por questão de ética não vou revelar o nome), contei o que tinha acontecido e ele me disse:

– Diga a ele que fique tranquilo. Domingo ele vai ouvir o jogo do time dele na íntegra.

E sabem quem jogava no domingo? Bahia e Vitória. Entendo que o Bahia sempre teve um percentual de torcida maior do que o Vitória, mas a cobertura da imprensa ao clube era na realidade muito desigual. Numa dessas minhas viagens a São Paulo, para fazer jogos de Bahia e Vitória, ouvi uma rádio da capital paulista transmitindo na íntegra os jogos da Portuguesa de Desportos. As demais faziam na íntegra os jogos dos grandes clubes, Corinthians, Palmeiras e São Paulo.

Fiquei com aquela marca na cabeça. No ano seguinte, em 1987, fui convidado pelo Zé Ataíde (sempre presente na minha carreira como cronista) para trabalhar na Rádio Cultura.

Muita gente da crônica não acreditava que eu saísse da Rádio Clube, onde eu gozava de grande prestígio com os diretores, Paulo Magalhães, Beto Gordiano e Eduardo Cedraz, com os colegas e com a chefia do departamento de esportes.

Mas a proposta do Ataíde era irrecusável. Analisei durante alguns dias e dei o sinal verde. Fui para revezar com ele na apresentação do programa Bom Dia Bola (das 7 às 8 horas) e narrar jogos de futebol.

Pouco tempo depois, Ataíde decidiu arrendar o horário das jornadas esportivas para Gerson Macedo e Eduardo Magarão. Esses dois já estão  no andar de cima. Mas o acordo durou pouco mais de dois meses.

Foi ai que o Zé me chamou e propôs que ficasse com os horários esportivos, em nível de arrendamento. Ele ficava com o Bom Dia Bola (eu alternava com ele na apresentação) e eu teria os horários das jornadas esportivas e um programa do meio-dia, às 13 horas.

Topei o negócio. E agora, o primeiro passo era armar a minha primeira equipe esportiva. Os narradores eram eu, Oldemar Seixas (legenda do rádio baiano) e Aloísio Santana. Este já morreu. E depois de trabalhar comigo foi contratado pela Rádio Sociedade. Os comentaristas eram Sérgio Tonielo (grande parceiro até hoje), o brilhante advogado Roberto Pessoa e às vezes, o próprio Zé Ataíde dava uma colher de chá comentando alguns jogos.

Os repórteres eram o “brother”, amigo e companheiro Renato Lavigne, que desde aquela época já apresentava o programa Grito Rubronegro (continua até hoje, aos domingos, às 14 horas na Rádio Excelsior) e Ray Elói. O plantonista era César de Souza, um radialista de Alagoinhas. Sempre que o encontro me agradece a oportunidade que lhe dei no rádio.

Chegou a hora de eu colocar em prática um projeto que sempre tinha em mente. Transmitir os jogos do Vitória na íntegra. Não podia disputar audiência com as rádios Excelsior e Sociedade, que já tinham as suas posições solidificadas no mercado. Tinha de utilizar um mercado diferente. E era justamente os jogos do Vitória.

Ouvi o próprio José Ataíde, o saudoso Juarez de Oliveira, Marco Aurélio e Cristóvão Rodrigues sobre esta minha ideia. Todos aprovaram e me incentivaram. Mas eu precisava ter um apoio de pelo menos dois fortes patrocinadores.

Tive uma reunião no Edifício Catabas, com o inesquecível amigo, Maneca Tanajura, e o ex-presidente e meu grande parceiro e amigo, Ademar Lemos Júnior. Expliquei para eles como seria o projeto. Transmitir todos os jogos do Vitória na íntegra e informar os jogos do Bahia, quando as partidas fossem em paralelo. Não lembro se o Paulo Carneiro estava nesta reunião.

Lembro que tive o patrocínio das Pedreiras Aratu, Cepelmix (dirigidas pelos amigos Zé Costa e Cristocílio Gomes) e a Lemos Passos, esta até hoje uma das mais conceituadas empresas no ramo de alimentação.

E colocamos o projeto em prática. Recebemos algumas críticas de alguns torcedores do Bahia, mas tivemos o apoio maciço da torcida do Vitória. E demos sorte porque logo em 1989 e 1990 o Vitória sagrou-se campeão baiano, tendo na presidência Ademar Lemos Júnior.

Depois ele saiu e colocou Paulo Carneiro em seu lugar. E o Vitória continuou uma época vitoriosa, e mantinha a hegemonia do futebol baiano. Foram várias conquistas no futebol profissional, divisões de bases e revelações de jogadores.

Esta minha iniciativa de transmitir os jogos do Vitória na íntegra teve o reconhecimento de grandes torcedores e conselheiros do clube. Lembro que durante duas reuniões, do Conselho Deliberativo, Gustavo Vieira e Reginaldo Fontes pediram que o secretário colocasse na ata que o radialista Mário Freitas foi o primeiro a montar uma equipe esportiva para transmitir jogos do Vitória na íntegra.

Numa determinada oportunidade, o conselheiro Walter Seijo disse que no dia em que alguém decidir escrever um livro sobre a história do Vitória, tem de dedicar um capítulo especial sobre a cobertura que Mário Freitas deu aos jogos do clube.

O dia em que decidi criar uma equipe esportiva para cobrir jogos do Vitória na íntegra foi mais um marco nesta minha longa carreira na crônica esportiva.

Marão Freitas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *