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A lembrança da minha primeira vez na Fonte Nova. E o Fluminense de Feira campeão

A velha Fonte Nova foi sempre o primeiro fantástico palco dos grandes espetáculos de futebol aqui em Salvador. Inicialmente os jogos eram disputados no acanhado campo da Graça, na Avenida Euclides da Cunha.

Depois, com a inauguração pelo Governador Octávio Mangabeira, em 1951, os jogos do campeonato baiano e outros de seleções e amistosos com clubes de outros estados passaram a ser disputados na Fonte Nova.

Aliás, muitos chamavam o estádio de Octávio Mangabeira ou Mangabeirão, mas ficou mesmo o simpático nome de Fonte Nova, em função de a ladeira que dá acesso à praça esportiva ter este nome.

A mais antiga lembrança que tenho de assistir um jogo na Fonte Nova, foi quando ocorreu a decisão do Campeonato Baiano de 1963. O Bahia era penta campeão e lutava pelo hexa.

O seu adversário era o Fluminense de Feira. Na época um jovem clube da simpática Feira de Santana, cidade localizada a 109 quilometros de Salvador e que sempre endurecia os jogos para Bahia e Vitória.

O Fluminense disputava o campeonato de amadores em Feira de Santana e por quatro anos  sagrou-se campeão: 1947, 1949, 1950 e 1953. No ano seguinte, tornou-se profissional se filiando à Federação Bahiana de Futebol.

Nove anos depois, portanto, o  Fluminense conquistou, pela primeira vez na sua história,  o título de campeão baiano, ao superar o Bahia na partida final.

Lembro que era um domingo de sol em Salvador e fui assistir o jogo com os amigos Carlos Artur Borges (o Quinha), Crispim Manoel de Santana (o Filho) este já nos deixou, e outros, que agora não lembro os nomes.

Nesta época, morávamos na Rua Alberto Torres, no Matatu. E como a grana era curta, a  gente não pegava ônibus para ir ao estádio, íamos na paleta mesmo. Mas a distância não era tão grande. Em mais ou menos, quarenta minutos a gente saia do Matatu e chegava na Fonte Nova. Na volta, sempre tínhamos uma carona, de um senhor chamado Hipólito, que era um torcedor apaixonado pelo Bahia.

Naquela oportunidade, já mostrava a minha tendência de torcer pelo Vitória. Mas nunca tive aquela paixão de ser contra o Bahia. Por isso aceitei o convite do pessoal para ficar na parte do lado direito das cabines de rádio, que era o local onde tradicionalmente se concentrava a torcida do time da capital.

Nunca esqueço de que neste dia, o saudoso massagista Jones levou uma faixa para o estádio da Fonte Nova com a seguinte frase:

“Os anjos jamais mentem. Bahia hexacampeão baiano de futebol.”

E a bola rolou num jogo muito disputado. O Bahia levava um certo favoritismo, não só por ser um time de maior potencial financeiro, como também pelo fato de três anos antes ter se sagrado o primeiro campeão brasileiro de futebol, ao derrotar o Santos, no dia 29 de março de 1960, por 3 a 1, no estádio do Maracanã.

O estádio não estava lotado, mas era muito boa a presença de público. Muitos torcedores vieram de Feira de Santana, alguns em seus próprios carros e outros em ônibus fretados, mas a torcida do Bahia era bem maior.

E foi esta torcida quem primeiro vibrou na Fonte Nova. Com um gol de Biriba, o time da capital fez 1 a 0 e àquela altura ninguém imaginava que uma inesperada virada poderia acontecer naquela tarde domingo.

A torcida não parava de comemorar o gol de Biriba, quando o time de Feira de Santana, dirigido pelo ex-árbitro de futebol, Antônio Conceição, o Tonho, empatou a partida.

Silêncio para a maioria dos presentes no estádio, mas uma enorme alegria para uma minoria que veio de Feira de Santana e para quem estava torcendo pelo time do interior.

Iroldo, um ponta-direita que veio emprestado pelo Botafogo do Rio fez o gol do Fluminense. Para muitos uma surpresa, para outros um resultado normal. Mas jogo que segue.

E não é que quando todos já esperavam o final do jogo com o empate de 1 a 1, aos 42 minutos do segundo tempo, o ponta de lança Renato Azevedo, um jovem de apenas 21 anos, por sinal meu primo de segundo grau, pega uma bola de primeira e chuta para fazer o gol da virada do Fluminense.

Uma verdadeira festa dos jogadores do time do interior, festa em Feira de Santana e frustração dos jogadores do time da capital e da imensa torcida do Bahia.

Naquela época, os juízes poucos descontos davam nos jogos. E aos 45 minutos, Mundinho, Misael, Ninoso, Val e Carlinhos Malaquias; Chinesinho e Ari: Iroldo, Renato Azevedo, Almeida e Dagoberto comemoraram o primeiro título de campeão baiano de um time do interior.

Depois, o próprio Fluminense viria ser campeão baiano, outra vez em 1969, o Bahia de Feira, em 2006, e o Colo Colo de Ilhéus em 2011. O herói daquela conquista de 1963, Renato Azevedo, ficou por pouco tempo jogando no Fluminense de Feira. Logo depois, foi negociado para o Sport Clube de Recife. De lá foi jogar no futebol mexicano, casou com uma mexicana, a Lucia, tem um filho, mudou-se depois para os Estados Unidos e, atualmente, voltou para o México e mora em Irapuato.
Nascido em Irará, todos os anos ele vem à Bahia, fica alguns dias na casa do seu amigo Joel Zanata, ex-jogador do Vitória, aqui em Salvador e em seguida vai para o interior rever os familiares.

Marão Freitas.

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