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A tragédia de 4 de março de 1971

O cenário estava pronto para ser uma grande festa em Salvador. E porque não dizer, para o esporte baiano e brasileiro. No dia 4 de março de 1971, seria inaugurado o anel superior da Fonte Nova.

Durante a semana que antecedeu aquela trágica quinta-feira não se falava em outra coisa a não ser a inauguração do que na realidade seria uma “nova” Fonte Nova.

Na época, eu trabalhava no Jornal da Bahia e na Rádio Excelsior. A ideia inicial é de que no dia da inauguração, quando jogaram Bahia x Flamengo e Vitória x Grêmio, era que os portões fossem abertos ao público.

O então secretário de comunicação do Governador Luiz Viana, o meu mestre amigo, Carlos Libório, sugeriu que fosse cobrado um preço simbólico de ingresso, a fim de evitar uma super lotação.

– “Acho que vai ser cobrado um ingresso barato. Caso o Governo abra os portões, o público vai lotar o estádio para assistir aos dois grandes jogos”.

Esta foi a argumentação de Libório e acatada pelo Governo. Mas ainda assim, quase 100 mil pessoas estavam presentes naquela tarde de 4 de março na inauguração do anel superior das arquibancadas da Fonte Nova.

Segundo boletins oficiais, cerca de 94 mil, 972 pessoas estiveram no estádio e naquela oportunidade a capacidade total era de 96 mil, 640 torcedores.

Durante a semana que antecedeu a realização dos dois jogos, um radialista famoso aqui de Salvador (por questão de ética, não vou divulgar o nome) levantou a suspeita de que a nova arquibancada não apresentava garantias e poderia existir o risco de um desabamento.

O fato é que muita gente que foi para a Fonte Nova ficou com medo, mesmo. O resultado é que acabou sendo registada aquela tragédia, que segundo informações oficiais, matou duas pessoas, mas muita gente garante que o número de mortos foi bem maior.

Naquele momento, o Brasil passava por um momento de ditadura militar e a imprensa não tinha a liberdade do livre exercício de sua profissão. Por isso, até hoje existe a dúvida do número exato das pessoas que perderam a vida naquela tarde. E até mesmo depois, em função dos graves ferimentos que sofreram no estádio.

Eu estava trabalhando na jornada esportiva da Rádio Excelsior. O primeiro jogo terminou com a vitória do Bahia sobre o Flamengo, por 1 a 0, com um gol marcado por Zé Eduardo.

O segundo jogo foi entre Vitória e Grêmio. A tragédia não teve maiores proporções porque muitos torcedores do Bahia saíram da Fonte Nova logo após a vitória do seu clube sobre o time carioca.

Lembro que estávamos por volta das 18 horas e 50 minutos, aproximadamente, quando jogavam Vitória e Grêmio e o time gaúcho estava ganhando por 1 a 0, gol de Paquito.

De repente, ouviu-se uma explosão no lado das antigas gerais da Fonte Nova, e começou o tumulto. Jamais vou esquecer aquelas tristes cenas de torcedores se jogando do andar de cima para o andar de baixo.

Através da Rádio Excelsior, eu e o narrador (o saudoso Fernando José) pedíamos calma, e os outros cronistas de outras rádio, também, faziam o mesmo para tentar acalmar os torcedores.

Mas para piorar a situação, logo depois do incidente, as emissoras tiveram de encerrar as suas transmissões do estádio, porque teriam de irradiar a programa a Voz do Brasil.

Mas o que se via era gente caindo sobre gente, indo para o gramado da Fonte Nova, que ficou super lotado com torcedores feridos e em desespero.

No fosso, que existia no estádio, também tinha gente caída. Uma cena que eu nunca gostaria de ter presenciado e bem de perto porque eu estava fazendo meta (reportagem de campo) no gol que dá para a Ladeira da Fonte das Pedras.

E muita gente que estava ouvindo o jogo pelas emissoras de rádio fiou sem noticias, porque a tragédia aconteceu minutos antes de as emissoras encerrarem as suas transmissões na Fonte Nova.

Depois ficou esclarecido que o motivo para o tumulto foi a explosão de uma lâmpada no anel superior e que em nada abalou a segurança do estádio.

Esta foi a primeira grande tragédia em um estádio de futebol na Bahia. Eu vi tudo bem de perto. E gostaria de que jamais estivesse ali naquele momento. E gostaria muito menos ainda que uma tragédia daquela natureza acontecesse. E era um dia em que tudo estava preparado para ser uma grande festa do nosso futebol.

Muita gente ficou com sequelas daquele acidente e até hoje muitos torcedores ainda lembram com tristeza daquele fatídico dia 4 de março do distante ano de 1971.

Marão Freitas.

2 respostas

  1. Realmente, estive lá sair todo ferido, a polícia colocou cachorros pra o povo não descer pro campo.
    Eu ouvir antes um estrondo. Depois fiquei sabendo que foi um dos refletores.
    Uma pena, pq foi uma grande festa, eu estava com 16 anos.
    Me lembro até que na hora que parou o jogo a bola estava nas mãos de Everaldo do Grêmio.

  2. Nesta época eu ainda iria completar 8 amo de idade (21.03) mas mesmo nesta época morando em São Paulo, e soteropolitano com muito orgulho, me lembro de comentários sobre essa tragédia.
    Hoje por acaso, vendo um programa de televisão, que falou sobre este caso, vim pesquisar no Google e achei a história.
    Ah… E na época, muitas pessoas comentaram sobre o acidente. Outras desmentiram.
    Que bom que temos as redes sociais para conferir e confirmar, não só esta mas outras histórias também.
    Valeu.

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