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Antônio Matos, um dos meninos de Quintino

Apaixonado por futebol, o jornalista, advogado e delegado de polícia Antônio Matos encontrou seu campo e bateu um bolão no jornalismo esportivo. O primeiro chute foi na Tribuna da Bahia, em 1967, quando viu o prédio do futuro jornal em construção e decidiu que queria compor o time. Conseguiu. Foi da “Escolinha” da Tribuna e integrou o seleto grupo dos “meninos de Quintino”, repórteres novatos treinados para não repetir vícios do tipo “via de regra”, “nosocômio”, “peleja”….

“Pelo que sei, meu filho, via de regra é vagina”, uma das máximas do mestre Quintino de Carvalho. E Matos aprendeu rápido que jogo é jogo, hospital é hospital, o Bahia é o Bahia e não Esquadrão de Aço. Foi escalado para editor de esportes na fundação da Tribuna e lá ficou por 22 anos. Montou uma equipe que, segundo o texto delicioso de Emiliano José nessa série #MemóriasJornalismoEmiliano, “revolucionou o jornalismo esportivo”.

Entre os inúmeros cargos que ocupou na carreira, mais 20 anos como editor, chefe de reportagem e articulista no jornal A Tarde.

Torcedor assumido do Ypiranga, a ponto de me enviar uma foto com a camisa do time para esta edição, ao lado de Lídia, companheira há quase 55 anos, tem quem jure que é também apaixonado pelo Bahêa (Quintino não me perdoaria). Em 2018 lançou o livro “Heróis de 59”, contando a história do primeiro título nacional do Bahia. Mas, como dia o jornalista e amigo José Bomfim, do Blog do Brown, matos é mesmo um “ypiranguense de quatro costados”, apesar de ter sido bicampeão juvenil pelo Vitória (1962/63).

Desculpaê Emiliano José, mas também ganhei uma historinha do seu protagonista da vez para complementar essas memórias. Com a palavra Antônio Mato:

“Eu era Delegado Chefe da Seção de Psicotrópicos, da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes, interrogava, no meu gabinete, por volta das 15 horas, um pequeno traficante de drogas, preso por uma guarnição da Polícia Militar, final da manhã, no Maciel, Pelourinho, numO a fase pré-revitalização do Centro Histórico de Salvador.

Um repórter policial (melhor omitir o nome), colega no ‘Diário de Notícias’ – onde eu era redator e colunista esportivo – fazia  diariamente a ronda nas delegacias de Jogos e Costumes e de Tóxicos e Entorpecentes, localizadas num mesmo prédio na rua do Bispo, proximidades da secular igreja de São Francisco, no Terreiro.

Sua rotina era a seguinte: lia o ‘Livro de Ocorrências’, no Comissariado, e checava, a seguir, com os delegados (titular, chefe de seção ou plantonista) os assuntos que tinha mais interesse em noticiar.

Embora todos soubessem que, além de delegado, era também jornalista, a disciplina policial exigia que o repórter somente tivesse acesso ao gabinete, acompanhado de um agente.

Apesar da cabeça baixa, ouvindo o traficante e datilografando o seu depoimento – por ser jornalista, muitas vezes dispensava o apoio do escrivão – percebi a chegada do investigador Pinto, ao lado do repórter.

Interrompo imediatamente o interrogatório, para atendê-lo e, ato contínuo, o traficante se dirige para o repórter e pergunta meio sem jeito: ‘ Meu veio, você caiu também ?’

O investigador olhou para mim, o colega ‘passou batido’ e ‘este locutor que vos fala’ fingiu não ouvir”.

 

Emiliano José – jornalista, político e escritor.

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