Nos anos 80, eu trabalhava na Rádio Clube e fui escalado pelo chefe da equipe esportiva, meu amigo Martinho Lelis de Santana, atualmente comentarista da Rádio Sociedade da Bahia, para transmitir o jogo São Paulo e Galícia no estádio do Morumbí. Na oportunidade, o Galícia estava disputando a a Taça de Ouro, uma espécie de Campeonato Brasileiro da série A. O jogo terminou com a difícil vitória do time paulista por 1 a 0.
Fiz o jogo com o repórter Zé Bim e no dia seguinte, fui visitar um cliente de calça jeans no popular bairro do Brás. Peguei um taxi, lembro que era um fusca e chegando no Brás, o nosso carro foi cercado por três motocicletas da Polícia Militar.
– Salta, salta. Gritaram os policiais
– O que houve ?
Cala a boca. Não fala nada.
Lembro que eu estava usando uma camisa vermelha, óculos escuros e, na época tinha uma vasta cabeleira. Eu estava sem entender nada. Pensei: será que estou sendo confundido com alguém ?
– Senhor, deixe-me dizer quem eu sou.
– Nada. Não fala nada . Cala a boa. Mãos em cima do carro.
– Amigo, sou radialista de Salvador, trabaho na Rádio Clube, vim aqui para transmitir um jogo de futebol.
Tive que falar alto.
– O que é isso aqui dentro do carro ? Perguntou o comandante da patrulha.
– É uma maleta de transmissão de rádio.
– Por favor, mostre a sua identificação.
Mostrei, eles baixaram as armas e começaram a fazer perguntas ao motorista do taxi. De repente, eles descobriaram que o carro era movido a gás, o que na época era proibido por lei. O policial se dirigiu ao taxista:
– Você é um irresponsável. Como você está trabahando com um carro movido a gás ? Você viu que colocou em risco a vida de um profissional, sério, honesto, que sai da Bahia para trabahar aqui em São Paulo e você com um carro desta natureza.
Nossa que alívio eu sentí. O policial disse ao taxista:
– Vou liberar você em atenção ao radialista da Bahia. Mas da próxima vez que você passar por aqui, vou prender o seu carro.
E se dirigindo a mim falou:
– Vá em paz e tenha cuidado com estes irresponsáveis que estão rodando com carro deste tipo aqui em São Paulo.
Confesso que passei o dia bem. Mas quando cheguei em casa, à noite, aquelas cenas de armas sobre mim, não saiam da minha cabeça e tive trabalho para dormir. Em poucos minutos, passei de vilão a herói. Ainda bem que não me agrediram, nem dispararam nenhum tiro, pois poderia não estar hoje aqui para contar esta história para vocês.
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