No ano de 1983 deixei o Jornal da Bahia, depois de 16 anos vestindo a camisa da empresa. Mas o órgão de comunicação foi vendido e entrou um grupo que, visivelmente, queria me tirar do cargo de editor de esportes. Mas como todo patrão é igual, a vida seguiu. No início, fiquei muito chateado, mas confesso que a partir daquele instante a minha carreira deu uma decolada legal.
Estava na Rádio Clube (AM 1290) e tinha as minhas tardes livres. Foi quando passei a prestar serviços na Secretaria Extraordinária de Informação e Divulgação, a SEID. Atualmente, é a Secretaria de Comunicação, que tem à frente o jornalista José Pacheco que também já trabalhou em rádio e usava o nome de Jota Júnior. O prefeito de Salvador era o Manuel Castro.
A sede da SEID era na rua Chile, ficava em um edifício, sobre a agência do Bradesco. O secretário de comunicação era Isidro Octávio do Amaral Duarte, e o chefe de redação o meu colega de turma em Jornalismo na Ufba, Paolo Marconi.
Naquela época não existia, ainda, a telefonia celular no Brasil, e os nossos contatos eram sempre feitos através de telefones fixos. Ou de casa ou do local onde trabalhávamos.
Na redação da SEID tinha um telefone na sala do Paolo e outra na redação, que servia para todos os repórteres, para apurar notícias ou até mesmo para resolver problemas pessoais.
Neste mesmo período, eu estava indo muito à cidade de Senhor do Bonfim transmitir jogos para a Rádio Caraíba, que pertencia ao grande amigo Antônio Luiz Chaves, filho do grande advogado Raul Chaves.
No órgão municipal, geralmente quem atendia as ligações era a secretária do Paolo, a Sônia, figura super educada. Numa daquelas tardes, chegou uma ligação para mim.
Como estava redigindo alguma matéria, pedi à Sônia para perguntar quem era.
– É de Senhor do Bonfim.
– Por favor Sônia, veja quem é?
Ela respondeu:
É Tidu!
Nessa momento a redação estava cheia e um rapaz que fazia serviço de office boy, chamado Miguel, meu parceiro, gente boa que me fazia muitos favores, ao ouvir a secretária falar Tidu, fez uma gozação:
– Tidu… Uh…Uh… Tidu… Uh…Uh
Ouvi ele fazer a gozação, atendi a ligação e em seguida me dirigi ao Miguel com dedo em riste:
– Olhe aqui, Miguel, me respeite. Trato você com respeito e exijo a mesma coisa. Nunca lhe faltei com respeito. Não repita. Não gostei. Não faça outra vez. Não lhe dou este direito.
Caramba, um silencio tomou conta da redação. Ninguém entendeu a minha reação pela brincadeira do Miguel, que por sinal já nos deixou. Sempre fui considerado um cara calmo, tranquilo, e nenhum colega imaginava que eu fosse ter uma reação daquela.
Passado o clima do momento, a galera começou a dar risadas. Lembro bem do Jorginho Ramos, do Adilson Borges, do fotógrafo Oldemar Victor e outros.
Lembro que no dia seguinte, à noite, estava no então Bar do Papito, na antiga sede dos Internacionais, na Mouraria, no fundo do Quartel General, com os colegas de trabalho e Oldemar Victor, me disse:
– Mário Freitas, até agora ninguém entendeu a sua reação com o Miguel. Você, um cara tranquilo, calmo, incapaz de dar um grito em alguém, ficou indócil. O que a turma ficou admirada é que logo você, perdeu a cabeça por causa de uma simples brincadeira.
– Olha Victor, nem eu sei explicar. Mas vou deixar passar uns dias e pedir desculpas ao Miguel.
E assim o fiz. Pedi desculpas pelo momento de raiva, ele aceitou e durante alguns dias os colegas ficaram fazendo gozação comigo. Toda ligação que chegava para mim eles falavam:
– É Tidu. Uh…Uh…
E também por alguns dias, ficaram me chamando de Tidu.
Tidu continua sendo um grande parceiro e amigo. Teodomiro Miranda continua morando em Senhor do Bonfim, foi dono de um motel e atualmente trabalha numa revenda de veículos Volkswagen.
O dia em que a rima com o nome do meu amigo Tidu me tirou do sério, foi mais uma das histórias que aconteceram comigo ao longo da minha estrada no jornalismo.
Marão Freitas