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O início da minha (ex) paixão pelo Vasco da Gama

Nunca entendi o fato de um cronista esportivo ou um juiz de futebol afirmar que não tem time de preferência. Ainda é muito comum a maioria afirmar que torce por Galícia ou Ypiranga, aqui em Salvador. Até aceito que os juízes de futebol não revelem por qual clube torcem, pois seria impraticável alguém afirmar que gosta do Bahia e ser escalado num jogo deste clube contra outro. Ou do Vitória, também. Seja por qualquer competição.

Ninguém entra na crônica esportiva se não gostar de futebol. Ninguém vai se tornar um árbitro de futebol se não gostar do esporte e não ter um clube de preferência.

Nasci no recôncavo, na minha querida Santo Amaro da Purificação. Terra dos consagrados e mundialmente conhecidos Caetano Veloso e Maria Bethânia, do famoso atacante do Bahia, o saudoso Raimundo Mário, entre outras celebridades.

Sou o sétimo filho de uma família de sete homens, e o mais próximo de mim era o médico Luís Azevedo, conhecido na Faculdade de Medicina como “Lula Pão”, que nos deixou em 30 de setembro de 2013. Data de triste recordação.

No interior da Bahia, e por quase todo o Norte e Nordeste, os clubes do Rio de Janeiro sempre tiveram vários torcedores. Era muito comum ouvirmos as famosas transmissões da Rádio Nacional, Rádio Tupi, Rádio Globo, Rádio Mauá, entre outras, através de suas potentes ondas curtas, hoje em extinção.

Atualmente, podemos sintonizar emissoras de todo o mundo pelos canais de comunicação modernos, como internet e outros. Então, as ondas curtas foram desativadas. O Rádio AM continua ainda forte em muitas regiões, principalmente em cidades do interior.

Lembro que um dia, ainda bem menino em Santo Amaro, estava em nossa casa na Praça da Purificação e o meu irmão Lula vibrou com um gol de um time. Ele estava ouvindo o jogo pelo rádio.

Na hora, eu disse:

– Lula quem fez esse gol? A partir de agora vou torcer por este time.

– Foi o Vasco!

E foi um gol do Vasco justamente contra o seu maior rival, o Flamengo. E nunca mais esqueci este fato. Daquele dia em diante passei a torcer pelo Vasco do Rio.

Confesso que foi uma verdadeira “paixão” pelo clube carioca. Era menino e pouco sabia sobre o futebol baiano e dos clubes da capital. A  minha única emoção era quando o Vasco jogava.

Recordo da decisão do Super Campeonato Carioca de 1958, quando o Vasco foi campeão, fazendo a final contra o Flamengo,  jogando pelo empate. Depois de fazer 1 a 0, gol de Roberto pinto, o Vasco tomou um gol (Babá), mas segurou o resultado e foi campeão.

Uma verdadeira festa em Santo Amaro. Vários torcedores reunidos próximos à Igreja de Nossa Senhora da Purificação, entre eles o meu saudoso, querido, compadre, parceiro e amigo Amauri dos Santos Alves (o Mamau), Lula, meu irmão, Guiga, meu irmão, Tote da padaria, entre outros.

O tempo foi passando, e logo depois vim morar em Salvador, com a minha família toda, e a paixão pelo Vasco continuava. Lembro que em 1966 deixei de fazer uma prova de datilografia, num domingo, à tarde, em um concurso do Banco do Brasil para ouvir um jogo do Vasco pelo rádio. É verdade, também, que já não tinha ido bem nas provas realizadas pela manhã.

E desta forma as emoções do futebol entraram na minha vida. Em dia de jogo Vasco e Flamengo eu mal conseguia me alimentar. Ficava nervoso, e quando o meu time perdia não me conformava. Não falava com ninguém.

Na época não existia a telefonia celular. O telefone fixo era moda. Eu me recusava a falar com qualquer pessoa, em dias que o Vasco perdia para o Flamengo. Vivi um período de derrotas e vitórias nos clássicos cariocas. Acho até que o Vasco perdeu mais, embora tenha ganho também muitas clássicos e decisões.

Mas a minha paixão foi esfriando. Sempre me considerei um vencedor e o Vasco perdeu três campeonatos seguidos para o seu maior rival (em 1999, 2000 e 2001), jogando as finais por dois resultados iguais.

Mas a gota d’água para eu deixar de torcer para o Vasco, mas deixei mesmo, aconteceu no final do Campeonato Carioca de 2001. O Vasco tinha vencido o primeiro jogo por 2 a 1. E jogava a segunda partida podendo perder até por diferença de um gol.

E muita gente lembra daquele famoso gol de Petkovic de falta, aos 43 minutos do segundo tempo, no gol que fica à esquerda do estádio do Maracanã, para a estação de trens da Central do Brasil. O gringo fez um golaço. Final, Flamengo 3 a 1. Flamengo tricampeão.

E como o jogo foi realizado às 15 horas, porque os refletores do Maracanã estavam com problemas, eu fiz a transmissão para a Rádio Excelsior (AM 840) com o meu saudoso e querido amigo, Carlos Sobral. E modéstia, à parte, foi um dos maiores saques que tive no rádio. Audiência fantástica, porque aqui em Salvador tínhamos um Ba x Vi, mas a bola só rolou às 17 horas.

E fizemos o jogo com exclusividade para a Bahia. As demais emissoras não se tocaram que seria uma espécie de preliminar de luxo, pois Vasco e Flamengo possuem muitos torcedores aqui na Bahia.

Depois desse dia, a minha paixão pelo Vasco acabou. Quem me conhece sabe que eu omito, mas não minto. Já não gostava tanto do clube como gostava no passado. Na atualidade, o clube perdendo ou ganhando não me diz nada. Absolutamente nada.

Dois anos antes, eu estava com os colegas Fernando Cabús e Renato Lavigne, numa decisão para a fase semifinal do Campeonato Brasileiro, fazendo um jogo Vasco x Vitória, e alguns violentos torcedores do clube carioca quase impediram que fizéssemos a transmissão.

Tive de contar com o apoio de alguns colegas do crônica carioca. Eu e o Cabús, que estávamos na cabine de São Januário, tivemos de colocar fitas e camisas do Vasco, ou poderíamos ser agredidos.

Juntando os fatos, decidi que hoje sou apenas um ex-torcedor do Clube de Regatas Vasco da Gama. Mas não posso negar que o time me deu muitas alegrias, principalmente em clássicos contra o Flamengo.

Breve vou contar como passei a torcer pelo Vitória. Mas sempre respeitando o Bahia. Por isso tenho orgulho de dizer que sou admirado pelos torcedores dos dois maiores clubes do Norte e Nordeste do Brasil.

Marão Freitas.

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