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O meu primeiro (e inesquecível) Ba x Vi na Fonte Nova

O clássico Ba x Vi sempre foi a maior atração do nosso futebol. Pena que na atualidade os clubes estejam em séries diferentes e que as fórmulas dos campeonatos regionais não permitam que possamos ver estes jogos como no passado. Antigamente, chegamos a ter até mais de dez clássicos em apenas um ano.

Lembro que ainda não tinha entrado para trabalhar na crônica esportiva. Era um estudante do Colégio Estadual Severino Vieira, quando fui assistir ao jogo decisivo pelo Campeonato Baiano de 1964. Este foi o meu primeiro Ba x Vi em um estádio de futebol.

Bahia e Vitória chegaram em igualdade de condições para decidir o título, mas os jogos só foram realizados no ano seguinte. Cada clube tinha ganhado um turno da competição.

E como havia uma crise no futebol baiano, motivada por uma agressão sofrida pelo saudoso jornalista e radialista Cléo Meireles, a imprensa não fazia cobertura do Campeonato Baiano. Existe uma suposição de que um ex-presidente do Vitória teria mandado agredir o profissional, porque ele teria divulgado uma notícia sobre a irregularidade de um jogador do Vitória.

E desta forma as associações de classe (radialistas e jornalistas) tomaram a decisão de não transmitir as partidas do Campeonato Baiano daquele ano.

A presença do público nos estádios era pequena, pois praticamente poucos tomavam conhecimento da realização dos jogos. Essa crise entre a crônica esportiva e o Vitória durou até o ano de 1966, quando foi selada a paz e os jogos voltaram a ser transmitidos.

Durante esta crise, o saudoso amigo e jornalista Luiz Eugênio Tarquínio fundou o Esporte Jornal. E este era o único órgão de comunicação que falava sobre o Campeonato Baiano.

E o consagrado radialista José Ataíde, com sua habilidade e inteligência, conseguia fazer as transmissões dos jogos mais importantes para a Rádio Sociedade de Feira de Santana, pois o acordo era somente para as rádios de Salvador não fazer os jogos.

A primeira partida decisiva do campeonato de 1964 terminou com a vantagem do Vitória pelo placar de 2 a 1. No segundo jogo, o Bahia deu o troco e venceu pelo mesm0 placar.

E os dois times voltariam a campo no dia 30 de maio, um domingo ensolarado em Salvador. Eu morava na Rua Alberto Torres, no Matatu, onde vivi boa parte da minha juventude.

E neste dia, decidimos ir ao estádio da Fonte Nova, que ainda nem tinha o segundo andar de arquibancadas, para assistir a decisão. Lembro que estava com o saudoso engenheiro, Hélio Roberto de Aquino Miranda, grande amigo, que nos deixou prematuramente no ano de 1982. Recordo que estava com a gente, também, o engenheiro Carvalho.

Este era um torcedor apaixonado pelo Vitória, colega de turma de Hélio na Faculdade de Engenharia da UFBA, também engenheiro e nascido em Juazeiro. Nunca mais tive contato com ele. Estava com outros amigos no grupo, mas confesso que não lembro de todos.

Ficamos na arquibancada, sentados no chamado gol de entrada do estádio, o gol da Ladeira da Fonte das Pedras. E o jogo começou. O público não era grande, pelos motivos que expliquei acima, mas também não era pequeno.

Quem vencesse levava o título. Jogo equilibrado e o Bahia saiu na frente com um gol de Mário, cobrando um pênalti. Ele chutou, o goleiro Ouri rebateu e na volta o meia fez 1 a 0.

Eu e o Carvalho ficamos desolados, e depois, para complicar mais ainda, o zagueiro-central Romenil foi expulso. E não é que com um jogador a menos o Vitória conseguiu virar o jogo e se tornar campeão baiano de 1964.

Um jovem, saído das chamadas “divisões inferiores”, na época, entrou  no time titular, escalado pelo técnico pernambucano, Palmeira, fez dois gols (para o gol do Dique do Tororó) e numa virada heroica, com um jogador a menos, o Vitória foi campeão.

Este jogador foi o ponta-esquerda Itamar, por sinal, irmão de Romenil e de outros jogadores de futebol, como os saudosos Kleber Bubu e Carlinhos Gonçalves. Itamar morreu anos depois, jovem ainda, em um acidente de carro nas proximidades do aeroporto Dois de Julho.

E foi uma tarde de festa da torcida do Vitória que invadiu a noite e a madrugada da segunda-feira. No ano seguinte, o Vitória se sagrou bicampeão baiano (venceu o Botafogo na final) e em 1966 perdeu a oportunidade de se sagrar tricampeão, perdendo o título numa melhor de três partidas para o Leônico.

Com a colaboração do meu amigo Antônio Matos, escritor, jornalista e delegado, vou apresentar a ficha técnica daquele inesquecível Vitória (campeão) 2 x 1 Bahia.

Vitória: Ouri, Tinho, Romenil, Nelinho e Mundinho; Kleber Carioca e Fontoura; Edmundo, Bartola, Didico e Itamar.

Bahia: Nadinho, Hélio Clemente, Henricão, Ivan e Thiago; Aurelino e Mário: Biriba, Hamilton, Raimundo Mário e Gilson Porto. Juiz, Ethel Rodrigues da Federação Paulista de Futebol.

O dia em que assisti o primeiro Ba x Vi no estádio da Fonte Nova, foi mais um fato marcante nesta minha longa carreira como torcedor e cronista esportivo.

Marão Freitas

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