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O que pensei ser um trote acabou sendo um fantástico evento com o Rei Pelé

Em 1982 eu trabalhava na Rádio Clube (AM 1290) cuja sede era na Avenida Joana Angélica, vizinha ao Colégio Estadual Severino Vieira, aliás onde estudei durante muitos anos. Fiz o curso ginasial e depois um ano de curso clássico e depois o científico, antes de fazer o Vestibular para Jornalismo na UFBA.

Na Rádio Clube, eu apresentava a resenha do Meio-Dia, revezando com o saudoso Juarez de Oliveira, que tinha me tirado da Rádio Excelsior, e também narrava futebol. Aliás o mestre Jura, como chamado carinhosamente chamado pelos seus colegas me fez uma excelente proposta financeira e me deu ótimas condições de trabalho. No Jornal da Bahia, eu já exercia as funções de editor de esportes.

Nesta época a sede do JBa. funcionava na Rua Djalma Dutra, no mesmo prédio da Tribuna da Bahia, que por sinal, continua no mesmo lugar. As duas direções fizeram um acordo operacional para cortar gastos.

Um certo dia, eu estava na redação e alguém falou.

– Mário Freitas, ligação para você.

Parei o que estava fazendo e fui atender o telefone.

-É o Mário Freitas?

-Sim. Sou eu.

– Quem está falando aqui é o Pedro (lembro bem do nome dele porque era o mesmo nome do meu pai) do Banco Itaú. Estou lhe ligando para fazer um convite. Você pode ir ao Rio de Janeiro na quinta-feira da próxima semana?

Eu pensei um pouco e fiquei imaginando. Deve ser alguém passando trote.

-Em princípio sim, Pedro. Mas é para fazer o que mesmo?

-É o seguinte: Pelé assinou um contrato o banco e vai o nosso homem forte de propaganda agora na Copa do Mundo. Vamos fazer um coquetel lá no bairro da Urca e estamos colocando uma passagem, de ida e volta, à sua disposição pela Vasp. Você confirma sua ida ?

Continuei desconfiando que era uma brincadeira, mas confirmei e perguntei como faria para receber o bilhete.

-Por favor, me dê o seu nome completo e passe na agência da Vasp, na Rua Chile e pode pegar o seu bilhete. Até o dia da viagem confirmamos a sua hospedagem. Não se preocupe com despesas, é tudo por nossa conta.

Agradeci e fiquei pensando. Está tudo fácil demais. Ficar de sexta-feira a domingo no Rio de Janeiro (na época, a Cidade Maravilhosa) com tudo pago, passagem e hospedagem, além de hotel em Copacabana.

Voltei para a minha carteira na redação, continuei fazendo o meu trabalho na edição diária do jornal, mas pensando quem poderia ter me passado aquele trote. Na minha cabeça, aquilo tudo não era verdade.

Sempre mantive um bom relacionamento com o Márcio Matos de Oliveira, ex-presidente da Federação Bahiana de Futebol, e Manoel Serapião Filho, ex-árbitro de futebol.

Para mim poderia ter sido um dos dois que tinha me passado o trote. E fiz a primeira ligação para o Márcio.

– Fala grande Márcio, tudo bem? Está sem trabalho hoje na Federação, é?

– Não entendi, Marão.

– Oh, Márcio, você me liga dizendo que é do Banco Itaú, me chamando para ir ao Rio de Janeiro com tudo pago, para participar de um coquetel com a presença de Pelé.

-Rapaz, acredite, já ia ligar para você. Estava aqui falando com a turma que recebi uma ligação sobre este mesmo assunto e eu disse: isso é coisa de Marão Freitas.

Bem, a partir daí, senti que o fato era verdadeiro. No dia seguinte, liguei para a agência da Vasp e tinha lá uma passagem de ida e volta ao Rio em meu nome e ainda um voucher de hospedagem em um dos excelentes hotéis de Copacabana.

O que parecia ser uma brincadeira de amigos acabou se tornando uma das maiores mordomias que o futebol já me proporcionou. Lembro que na noite de uma determinada sexta-feira, aconteceu o coquetel no Iate Clube do Rio de Janeiro, no bairro da Urca, com a presença de jornalistas, jogadores, autoridades, enfim a fina nata do esporte brasileiro.

Confesso que nunca tinha participado, e até hoje não estive presente, em uma festa com tanta bebida e comida. De camarão a lagosta, passando por todas as bebidas existentes não faltava nada. E como tinha gente bonita naquele encontro. Inesquecível.

E realmente Pelé foi apresentado como uma espécie de garoto propaganda do Banco Itaú na Copa do Mundo de 1982, na Espanha, por sinal, de triste recordação para a Seleção Brasileira, eliminada pela Itália por 3 a 2, com três gols de Paolo Rossi, na chamada tragédia do Sarriá.

E ninguém do banco me pediu para falar nada, não fazer nenhum registro, nem nos programas da Rádio Clube, nem nas páginas esportivas do Jornal da Bahia. O que falamos e escrevemos ficou por conta de um extraordinário evento naquela inesquecível noite no Rio de Janeiro.

O dia em que um convite para eu participar de um grande evento no Rio de Janeiro, e pensei se tratar de uma brincadeira, foi mais uma das histórias que aconteceram comigo neste fantástico mundo da bola.

Marão Freitas

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