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O vazio do abraço

Estudioso, pesquisador e conhecedor. Não à toa era chamado de “Catedrático”. Sim, com letra maiúscula. Não era apenas expoente na crônica esportiva do sul da Bahia, mas também na sociedade ilheense e, principalmente, na família. Era um líder nato e carismático e, acima de tudo, um homem de família. Bom filho, irmão e pai. O líder se difere do político – que ele também o foi. Com trabalho, ouvidos atentos e palavras de incentivo e entusiasmo para todos, tornou-se um sujeito admirável dentro de casa e no mercado de trabalho. Ninguém o enxergava como um concorrente, mesmo quando entrou no embate eleitoral. Ninguém o enxergava como adversário, mesmo quando apresentava programa na Gabriela FM. Ninguém o enxergava como teórico ou prolixo, mesmo quando o ouvinte desconhecia algum esporte abordado na resenha.

Nasceu Manuel Felix Kruschewsky Bastos. Homem simples, mas longe de ser um simples homem. Tanto que atendia simplesmente como Neo ou Neo Bastos. Natural comunicador de linguagem simples e acessível. Capaz de agregar e reunir amigos numa roda de música ou numa conversa informal sobre futebol, seja no bar, na esquina ou na praça. Por sinal, ele colecionou muitas amizades em sua caminhada aqui na Terra. O dia acordou em silêncio sem “aquele abraço sempre”. O dia acordou sem o sorriso fácil. O dia acordou sem a batalha do guerreiro. Craque nos comentários, artilheiro das adversidades. Resiliente, Neo driblou dramas pessoais e se mantinha vívido na grande área da vida. O destino, travestido de zagueiro brucutu, derrubou-o e o árbitro celestial – ninguém sabe o porquê (misteriosos desígnios de Deus) – seguiu o lance, sem que o rubro-negro baiano escapasse novamente ileso.

Agora, o som da sua voz ecoa no infinito, além das ondas de rádio. Ele sai da mera condição de vinheta inesquecível para o próprio significado de sucesso profissional. Sai do ar para figurar na constelação divina. Seu exemplo e sua trajetória passam a ser escritas ou guardadas na mente e no coração de todos aqueles que certamente o admiram. (Sim, verbo no tempo presente). Por isso, o fim dessa história é apenas o começo da atual e futura saudade. Parafraseando esse brilhante radialista: “esse sentimento vicia e sempre abraça”. Adeus, “meu garoto”.

Fábio Lopes é ilheense, publicitário, radialista, professor universitário e poeta.

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