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Uma viagem tumultuada na volta da Copa do Mundo do México

A minha primeira cobertura de uma Copa do Mundo foi em 1986, no México. Aliás, por pouco a competição não foi transferida para outro país, uma vez que no ano anterior a sede do evento foi sacudida por um violento terremoto, que deixou várias pessoas mortas e outras desabrigadas, na capital (México) e por cidades do interior.

Na oportunidade, eu trabalhava na Rádio Clube (AM1290) e a equipe esportiva era chefiada pelo meu amigo Martinho Lélis de Santana. Viajamos para fazer a cobertura numa cadeia de emissoras com a Rádio Sociedade de Feira de Santana, Rádio Jornal de Aracaju e a Rádio Clube de Pernambuco.

Lembro que no dia da eliminação do Brasil (em Guadalajara) estava nas arquibancadas do estádio de Jalisco, ao lado do Martinho. Vi Zico perder um pênalti no tempo normal da partida contra a França, que terminou empatada em 1 a 1, e na decisão por pênaltis, Sócrates perdeu, e o zagueiro Júlio César mandou uma bomba na trave.

Eu e o saudoso Mário Luiz pegamos um trem naquela mesma noite e voltamos para a capital mexicana, pois ainda tínhamos muito trabalho. Afinal, o Brasil foi eliminado, mas a Copa o Mundo continuava. Na decisão, também não estava escalado para trabalhar, e ao lado do Dílson Barbosa, assisti a Argentina, com um show de Maradona, derrotar a Alemanha por 3 a 2 e se sagrar campeã.

Depois da final do Mundial, fui para Miami e Orlando, pois já tinha saído daqui com tudo organizado para conhecer os famosos parques da Disney World. Encontrei com um grupo de brasileiros e fui participar de uma excursão. Visita a parques, conheci, Miami e Orlando, tudo às mil maravilhas.

Dois dias antes da minha volta, que seria de Miami para o Rio, estava em Orlando e pedi ao meu saudoso e querido compadre Amauri dos Santos Alves para bater uma fotografia (ainda não existia a telefone celular) e fiz pose com uma espécie de “capanga” de couro, onde a gente costumava guardar dinheiro e documentos.

Fizemos as fotos e subimos para os apartamentos do hotel. Quando fui procurar os meus dólares e passagem, notei que tinha esquecido no lobby (saguão) do hotel. Desci correndo e nada. Literalmente, eu me deixei ser “roubado”. Perdi tudo. Lembro que ainda me sobraram 800 dólares e a estavam juntos, também, o passaporte e a passagem de volta pela Aerolineas Argentinas.

No dia seguinte, foi uma luta para conseguir uma autorização para deixar os Estados Unidos e conseguir recuperar a passagem aérea de volta. Mas consegui. Arrumei 200 dólares emprestados, paguei a minha passagem de ônibus de Orlando para Miami, a locomoção de táxis e o hotel.

No dia seguinte, à noite, fui para o aeroporto e entro no avião. Alguns minutos depois, pediram para que todos os passageiros saltassem, pois iria embarcar um passageiro argentino, que estava doente e tinha prioridade. E a tripulação tinha de improvisar uma espécie de cama em três filas duplas de poltronas.

O avião decolou e o cidadão (coitado) não parava de gritar. Ele estava em companhia da filha e de um médico. Eu estava sentado no meio, ao lado de um casal (ele radialista do Paraná). Falei para os dois.

– Não sou médico. Mas esse cidadão não vai chegar vivo no Rio. Está sofrendo muito.

Os passageiros que estavam sentados nas proximidades, sentiam o desespero da filha e do médico, a todo instante aplicando medicamentos e um tubo de oxigênio. E não deu outra. Pouco depois o argentino morreu, em pleno voo.

Cheguei no Rio e tinha um outro problema. Conseguir uma vaga para Salvador, pois os voos estavam lotados. E eu tive de adiar este meu trecho (Rio/Salvador) porque perdi a minha passagem original. Liguei para o meu amigo Márcio Souza, então diretor da Bradesco Turismo, e hoje atuando ainda no ramo de turismo, com a sua própria empresa em São Paulo.

Ele agilizou, através dos seus contatos, e conseguiu me colocar num voo para Salvador, por volta das 14 horas, pela extinta Transbrasil. Lembro que o nome do gerente no aeroporto do galeão era Barbiere. Fiz o check-in, me dirigi para a sala de embarque e fui ligar para o meu compadre Agripino Franco.

Estava falando de um orelhão (telefone público) e contando para ele o que tinha acontecido comigo nos Estados Unidos, e me esqueci do horário. Acabamos a conversa e eu disse a ele: por favor me pegue no aeroporto por volta das 16 horas.

Creia: quando desligo o telefone, vejo um avião da Transbrasil se deslocando para pista e uma jovem funcionária da Transbrasil procurando por alguém. E quem era este alguém?

– Você é o Mário Freitas Souza? Eu não acredito. Olhe o seu avião ali. Você perdeu o voo. Meu Deus, não sei como vamos lhe acomodar em outro avião.

Confesso que quase fui às lágrimas. Pedi desculpas, e fomos para o salão principal do aeroporto. Ela pediu que ficasse num determinado lugar e não saísse para fazer nada, pois ia conversar com o Barbiere. Alguns minutos depois, este me chamou, me deu uma bronca (justa por sinal) e disse que ia tentar me acomodar em um voo que decolava às 17 horas.

Nem fome eu tinha a esta altura. Não sei a “mágica” que fizeram e me colocaram neste outro voo. O aeroporto lotado, com gente dormindo nos bancos e pelo chão. Desta vez, fui o primeiro a embarcar. Lembro que o equipamento (tipo do avião) era um Boeing 707. Tudo certo, vamos para a cabeceira da pista e na hora de decolar o comandante avisa:

– Senhores e senhoras, por problemas técnicos, estamos sendo obrigados a cancelar a nossa decolagem. Peço a todos que se mantenham em seus lugares e em breve daremos novas informações.

Aqui pra nós, pensei:  estes não eram os dias para eu viajar. Mas, enfim, depois de aproximadamente meia hora, conseguimos voar para Salvador. E diga-se de passagem, foi uma viagem muito tranquila. E também não era para menos, depois de tantos problemas.

Esta foi uma das viagens mais tumultuadas que aconteceram comigo neste fantástico mundo da bola.

Marão Freitas.

 

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