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Sujaram o carro de Melquizedeque Luiz dos Santos. E o professor perdeu a “cabeça”

Raimundo Rocha Pires, o saudoso Pirinho era o presidente do Vitória em 1972, quando o clube se sagrou campeão baiano, depois de disputar e vencer duas partidas finais contra o Bahia. Na oportunidade, o técnico era Paulinho de Almeida, que tinha trabalhado no futebol carioca. Ele chegou em Salvador e trouxe o então preparador físico Melquizedeque Luis dos Santos, que também já nos deixou.

Melquizedeque depois virou treinador e teve passagens por vários clubes baianos, entre eles Bahia, Catuense, Juazeiro, Fluminense de Feira, Galícia, Ypiranga e outros. Deixou uma marca forte no esporte, revelando grandes jogadores e fazendo excelente trabalho, também, nas divisões de base pelos clubes onde passou.

Aquele time do Vitória de 72 era fantástico. Tinha jogadores do nível de Gibira, André Catimba, Osni, Mário Sérgio, entre outros. O clube só não tinha a estrutura que tem hoje. Não existia o Barradão, e os treinos coletivos eram realizados em vários campos aqui de Salvador e até em algumas cidades do interior.

Foi neste ano que, com o apoio de conselheiros influentes, como Ademar Pinheiro Lemos, Manoel Pontes Tanajura, Benedito Dourado da Luz, entre outros, o clube conseguiu comprar a Toca do Leão.

Naquele local, que se transformou no Complexo Benedito Dourado da Luz, existia apenas um campo de pequenas dimensões, sem grama, o chamado Perôneo (porque muitos jogadores se machucavam) e onde eram realizados os treinamentos físicos. Alguns treinos táticos eram realizados alí, também.

Um certo dia, o preparador físico Melquizedeque chegou na Toca do Leão com um Fuskão amarelo. Zero quilometro. Não era um carro luxuoso, mas era um dos mais vendidos na época e fabricado pela Volkswagem.

Existiam alguns jogadores no grupo que gostavam de fazer gozação, mas de forma respeitosa, com o preparador físico. Entre eles, França (lateral-esquerdo) que veio do Flamengo, Mário Sérgio, Almiro e outros.

O estacionamento dos carros era junto do tal campo chamado pela galera de Perôneo. Num determinado dia, os jogadores decidiram que iriam brincar com Melquizedeque e sujaram o carro dele todo de lama.

Quando o professor saiu do banho e viu o carro sujo, não se conteve. Aos gritos, ele falava:

– Exigo respeito. Quem fez isto com o meu carro? Vou até à Polícia, se for o caso, mas quero saber quem sujou o meu carro desta maneira. Isso não se faz.

E o nosso amigo Melqui, como era tratado na intimidade, não se conformava. Procurou o supervisor Divalmiro Sales, que estava no local, ligou para o Presidente Pirinho e continuava exaltado:

– Vou dizer uma coisa para vocês, especialmente para aqueles que sujaram o meu carro. Não repitam este ato. Podem bater na minha cara, podem me dar chutes, podem até passar a mão na minha “bunda”. Mas não sujem o meu carro.

Alguns dos que estavam presentes davam gostosas gargalhadas, outros ficaram surpresos com a irritação do Melquizedeque, mas o fato é que os responsáveis pela brincadeira não apareceram.

Depois, mais calmo, o preparador físico ouviu os conselhos dos que tentavam contornar a situação, e começou a dar entrevistas para os repórteres que tinham ido ao local para fazer a cobertura do clube na Toca do Leão.

O dia em que o saudoso e competente Melquizedeque Luiz dos Santos perdeu a cabeça porque sujaram o seu carro, e eu fui testemunha, foi mais uma das histórias que eu presenciei neste fantástico mundo da bola.

Marão Freitas

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