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Um dia sem grana em Aracaju

Em 1970, o estádio da Fonte Nova foi fechado para a construção do anel superior. O Bahia disputava o então Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, e a diretoria decidiu que os seus jogos seriam realizados em Aracaju, no Batistão, e fez um jogo em Maceió. Os repórteres eram eu, Jorge Sanmartin e Ênio Carvalho. O chefe da equipe era o saudoso Fernando José, que fazia um rodízio com os três.

Caiu para mim uma sequência de dois jogos. Bahia e Vasco, em Aracaju, e Bahia e Grêmio, este jogo marcou a inauguração do estádio Rei Pelé, em Maceió. O narrador foi Nilton Nogueira e o comentarista, o também saudoso, Souza Durão. Como era a minha primeira viagem, como profissional, para fora da Bahia, e não conhecia Aracaju, e fui cobrir o evento também para o Jornal da Bahia, decidí viajar com um dia de antecedência.

Antigamente, as emissoras de rádio davam diárias para os profissionais pagar as despesas de hospedagem e locomoção. Viajei antes de Nogueira e Durão. Cheguei no hotel e a dona me pediu para antecipar o pagamento das diárias.

– Tudo bem, rapaz. Aqui existe uma reserva para três profissionais da Rádio Excelsior. Mas você tem de pagar adiantado.

– Tudo bem, senhora.

Abrí a carteira, paguei e saí para almoçar. Naquela época, não existia cartão de crédito, ou poucos tinham. Depois que paguei o almoço, fui dar conta que estava praticamente sem dinheiro. E agora, o que fazer? Liguei para um dos meus irmãos, o Madinho, que morava em Feira de Santana, e hoje já está no "andar de cima" e pedí a ele que me desse o telefone de um amigo que tinha em Aracaju. Ele me passou o telefone de Ioiô, um rico empresário, proprietário de uma loja de pneus na capital sergipana. Pensei: resolví o problema. Procurei e encontrei a loja.

– Boa tarde Ioiô. Sou Mário, irmão de seu amigo Madinho de Feira de Santana. Rapaz, eu adiantei as diárias do hotel, fiquei sem dinheiro, os meus colegas estão chegando esta noite e queria que você me emprestasse algum dinheiro para eu jantar hoje e pagar um táxi para voltar ao hotel.

– Rapaz, não me leve a mal, mas não tenho. Acredite. Caso eu tivesse lhe emprestaria. Sinto muito.

A loja do senhor Ioiô era grande, uma das maiores do ramo, em Aracaju. O cara me disse que não podia me emprestar nada. Queira, em nível de hoje, uns 100 reais somente. Mas o "homem" repetiu que não tinha.

E agora? Pensei. Bem, vou voltar a pé para o hotel e pedir à senhora que me devolva pelo menos uma parte do dinheiro que paguei adiantado, e amanhã, quando Nogueira e Durão chegarem, pago a ela, de novo.

– Senhora, boa tarde. Lembra-se que lhe paguei toda a minha estadia adiantada?

– Sim, lembro.

Expliquei a minha situação e na hora ela me devolveu o dinheiro. Agradecí, e no dia seguinte, quando os companheiros chegaram, pagamos tudo. E o seu Ioiô, rico empresário de Feira de Santana, radicado em Aracaju, amigo de meu irmão, se negou a me emprestar uma pequena quantia em dinheiro para eu pagar um táxi e uma refeição, à noite. Coisas da vida que muda "de minuto a minuto".

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