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A corajosa (e digna) atitude do chefe Marco Aurélio

Sempre afirmei que tenho muitas virtudes. Mas considero a minha educação, trato todos com muito gentileza, independente de cargo ou posição social e sou uma pessoa grata.

Não gosto da ingratidão. Costumo até perdoar com facilidade alguém que por acaso me fez algum mal. Mas sou eternamente grato a quem fez e faz qualquer coisa por mim.

Já escrevi também que entre muitas pessoas no rádio baiano sou eternamente grato e Marco Aurélio, José Ataíde, Nilton Nogueira e o saudoso Juarez de Oliveira. Eles e outros me ajudaram na minha longa carreira.

Mas tem um fato interessante que aconteceu comigo e Marco Aurélio, que era o chefe da equipe esportiva da Rádio Excelsior da Bahia, AM 840, na década de 70.

Lembro que entraria de férias numa quarta-feira e combinei com o Marco Aurélio que a gente iria simular uma discussão e eu abandonaria o programa.

Tudo combinado. O programa ia até às 14 horas. Por volta das 13 horas e 50 minutos, eu disse alguma coisa e o Marco discordou.

– Ah, é assim, é? Então eu vou abandonar o programa.

– O problema é seu. Se você sair, não volte mais.

– Então, já fui. Até logo.

Mas foi tudo armado para a gente criar uma polêmica e no dia seguinte eu entraria de férias e só voltaria a trabalhar depois de trinta dias. Já tinha uma viagem programada para o sul do país, com o meus compadres e amigos, Agripino Franco e o saudoso Amauri dos Santos Alves (o Mamau).

Perto das minhas férias chegarem ao final, estive na Praça da Sé. Fui resolver um assunto no Edifício Themis. De repente, encontrei o falecido Gonzaga, que era o responsável pelo departamento pessoal da rádio

– Rapaz, venha cá. Tenho um assunto muito desagradável para lhe falar. Mas, por favor, não comente com ninguém.

– Claro, pode ficar tranquilo.

O saudoso Wilson Alves de Menezes era o diretor geral da Rádio Excelsior. Naquela oportunidade, ele também era diretor do Esporte Clube Vitória.

– O senhor Wilson mandou fazer as suas contas. Você vai ser demitido.

– Mas ele explicou por que ele vai tomar esta atitude?

– Não. Só pediu para fazer as suas contas.

Agradeci, fiquei na minha e fui de noite na casa do comentarista Gerson Macedo. Na época, ele morava no Acupe de Brotas e me disse que não sabia de nada e iria procurar saber o que estava havendo.

No dia seguinte, fui procurar o Marco Aurélio. E este sempre foi um cara objetivo. Dizia sempre o que tinha de dizer cara a cara. Era incapaz de fazer algum tipo de fofoca ou de falar de alguém na ausência.

Disse a ele que tinha ido na casa de Gerson Macedo e este não sabia de nada.

– Não entendi, porque você foi na casa de Gerson. Você tinha de vir falar comigo.

– Fui apenas, Marco, porque tenho muito amizade com o Gerson.

– Mas tudo bem. Deixe comigo. Apareça lá na rádio amanhã, por volta das 10 horas.

Lembro que as minhas férias terminavam em mais uma semana, aproximadamente. No horário combinado, cheguei na Rádio Excelsior e fomos na sala do Sr. Wilson Menezes.

– Seo Wilson, por que o senhor quer demitir Mário Freitas?

– A rádio precisa fazer uns cortes e ele tem outro emprego no Jornal da Bahia.

– Seo Wilson, me desculpe, mas eu não aceito a demissão de Mário.

– É, mas quem manda na rádio sou eu.

– Sim, mas quem manda no esporte sou eu. Mário é repórter, é redator, é narrador, é apresentador, vende publicidade e o senhor quer tirar o cara da rádio? Não aceito. Tire qualquer outro, menos o Mário.

Eu de lado, só ouvia a discussão dos dois. A coisa ficou quente e nunca esqueço desta frase do meu AMIGO Marco Aurélio:

– Olha aqui, seo Wilson. Eu sei que o senhor é quem manda. Mas se o Mário estiver demitido, eu também saio da Rádio Excelsior, agora. Mande fazer as minha contas, também.

E depois de muitas discussões entre os dois, a decisão da minha demissão acabou sendo anulada. Nunca esqueci, nem vou esquecer aquela atitude amiga e corajosa de um chefe de equipe.

Depois ficou explicado que ele ouviu a “discussão” que tivemos no programa do meio-dia (antes de eu sair de férias) e ele pensou que Marco Aurélio iria concordar com a minha demissão.

Marco Antônio Alves de Magalhães, o Marco Aurélio, um dos maiores radialistas desta terra, foi narrador, apresentador, publicitário e atualmente está aposentado, cuidando da sua rede de lojas de artigos esportivos.

Marão Freitas.

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