Search
Close this search box.

A gentil, charmosa e pontual argentina que conheci na Copa do México

Quem pensa que os profissionais que viajam para cobrir uma Copa do Mundo vão passear, está redondamente enganado. A não ser que algum se programe para ir com antecedência ou, então, ficar no exterior, depois do encerramento da competição internacional.

Na Copa do Mundo de 1986, eu estava na Rádio Clube AM 1290, viajei para cobrir o evento com o meu amigo Martinho Lélis, fazendo parte da Rede Brasileira de Rádio.

Como a Seleção Brasileira ficou sediada na cidade de  Guadalajara, Martinho ficou nessa localidade e eu fiquei na capital do México, a bela e grandiosa Cidade do México.

E para fazer esta cobertura eu cometi um tremendo erro. Viajei sem hotel reservado, e ao chegar me dirigi para o local onde estavam Dilson Barbosa, Marco Aurélio, Ivanildo Fontes, e outros colegas, num hotel no centro da cidade.

Só que o hotel estava lotado. Por sorte, encontrei o saudoso Mário Luiz, que também fazia parte do meu pool (cadeia) de rádio e estava à procura de hotel.

Como a língua espanhola é a oficial do México, e se parece muito com o Português, não foi difícil a gente se comunicar, para conseguir hospedagem, além de contar com o apoio dos que já tinham chegado.

Mas, mesmo assim, tivemos alguma dificuldade, pois chegamos no México no dia 29 de maio e dois dias depois a bola rolaria na Copa do Mundo, que acabou sendo ganha pela Argentina, que venceu a Alemanha na final por 3 a 2.

Depois de muito luta, liga para um, liga para outro, conseguimos a nossa hospedagem. Não era um hotel de luxo, mas também não era um “cacete armado”, como a turma da imprensa gosta de chamar hotéis fracos.

E demos sorte, porque perto desse hotel passava um dos ônibus que conduzia os cronistas esportivas para o Centro de Imprensa, que ficava muito distante do centro da cidade.

Essa á uma prática adotada em todos os campeonatos mundiais de futebol. E os gozadores da imprensa chamam estes ônibus de “cata-corno”. Só que os cronistas fazem uma economia legal, evitando pagar taxi.

São vários ônibus, em diversos horários, e a pontualidade é britânica. Quem se atrasar, pode se prepara para pegar um taxi, ou outro ônibus da linha comercial da cidade.

E o trabalho era duro mesmo. Geralmente, chegávamos lá por volta das 10 horas e ficávamos até perto da meia-noite, com algumas folgas intercaladas.

Numa dessas noites de folga, fomos a um barzinho de um carioca. Beto, um cara gente boa. Foi um integrante da nossa rede de rádio quem nos indicou.

Saímos mais cedo do Centro de Imprensa, passamos no hotel, nos arrumamos e fomos para o barzinho do brasileiro, Beto. Realmente, um local muito agradável.

Procuramos o Beto, ele nos recebeu muito bem e disse que ia nos colocar numa mesa onde estavam alguns sul-americanos e iria chegar um brasileiro.

O Beto era aquele carioca bom falante, um boa praça. Levou nós dois até a mesa, nos apresentou como sendo grandes cronistas esportivos brasileiros que estávamos cobrindo a Copa do Mundo.

Sentamos, e na mesa estavam uma venezuelana, muito bonita, uma argentina, charmosa, uma americana, elegante, um japonês e um cara da África da Sul, este apaixonado por futebol.

De repente, fui no banheiro e encontrei o Beto.

– E ai parceiro, qual é o caso daquelas três belas mulheres que estão em nossa mesa?

– A venezuelana mora com um professor, que por sinal é baiano. A americana está vindo pela primeira vez e aquela argentina, Patrícia, é gente boa.

Voltei para a mesa. Nesta época ainda arriscava uma cervejinha, e ficamos batendo papo com a galera. O Mário Luiz ainda arriscou uma piña colada e uma tequila.

De repente, comecei a bater papo com a Patrícia. Ela falou que morava no México fazia 5 anos, era da cidade de Corrientes na Argentina. Estava fazendo um trabalho de pesquisa para uma empresa e ficaria por mais dois anos no país.

No final da noite, trocamos telefone, fomos para o hotel e como fiquei conversando mais tempo com a Patrícia ela disse que eu estava convidado para ir no apartamento dela.

Dois dias depois, ela me ligou no hotel e disse que quando eu saísse do Centro de Imprensa fosse na casa dela. Ela falou que não era boa cozinheira, mas iria fazer um tira gostos para mim.

Neste dia, o Mário Luiz estava de plantão e não pode ir comigo. Peguei o ônibus para o hotel, depois outro e cheguei no apartamento da Patrícia. Ficamos conversando, ela falava devagar e eu também para que pudéssemos nos entender.

Ficamos batendo papo, o tempo foi passando e ela esqueceu que naquele dia havia uma greve dos taxistas da Cidade do México. Entre uma cervejinha e um tira gosto, esqueci de avisar ao meu parceiro de hotel e acabei dormindo no apartamento da Patrícia.

No dia seguinte, ela foi me levar no Centro de Imprensa, quis pegar o nosso tradicional ônibus, mas ela não deixou. Fez questão de me levar até o local, que ficava muito distante.

Agradeci, e logo que cheguei me encontrei com o Mário Luiz.

– Rapaz, fiquei preocupado com você. O que aconteceu?

Falei para ele da greve dos taxistas, pedi desculpas por não ter avisado e fomos trabalhar. Depois, voltei no apartamento da Patrícia, algumas vezes, uma figura super educada, gente fina e também levei o Mário Luiz.

Perto do final da Copa do Mundo, ela me deu uma foto com uma dedicatória que não esqueci. Em espanhol, ela escreveu “para o brasilenho, mais gentil e pontual que conheci em toda la mi vida”.

Depois que voltei do México, ainda falei algumas vezes com a Patrícia Ticolini. Mas, com o passar do tempo, perdi contato com aquela gentil, charmosa e pontual argentina.

Marão Freitas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *