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A primeira, única e última experiência em La Paz

No ano de 1993 eu já estava com a minha equipe Alto Astral na Rádio Excelsior (AM 84), tendo me transferido da Rádio Cultura (AM 1140). A minha ida para a nossa emissora foi uma negociação fácil, porque teve a interferência de Dilson Barbosa, Fernando Henrique Chagas, Roberto Coelho e outros.

Neste mesmo ano, estavam sendo disputadas as Eliminatórias para a Copa do Mundo do ano seguinte, que acabou sendo ganha pelo Brasil, depois de uma disputa de pênaltis contra o Itália, depois de um 0 a 0 no tempo normal, e um novo empate na prorrogação, também sem abertura de contagem.

Naquela oportunidade eu estava participando com o meu colega e saudoso amigo, Barbosa Filho, da Rede Brasileira de Rádio. E veio um  jogo onde eu me escalei para ir: Brasil x Bolívia, em La Paz.

Quem já tinha ido na capital boliviana me alertou sobre os problemas que a altitude da capital boliviana causava, principalmente para nós que vivemos aqui em Salvador, no nível do mar.

Lembro que viajei desde a quinta-feira e fiquei hospedado, em La Paz, no mesmo hotel que Nilton Nogueira e Silva Rocha da Rádio Sociedade e Itajaí Pedra Branca da Rádio Sociedade de Feira de Santana.

Chegamos, já no final da tarde, (o aeroporto ficava numa espécie de montanha ainda mais alto do nível da cidade). Decidimos não jantar, fizemos um lanche e fomos dormir.

Ou tentar dormir. Mais ou menos por volta das 10 horas, comecei a sentir falta de ar. Estava no mesmo apartamento de Itajaí, que não se queixava de nada.

Peguei o telefone, liguei para a portaria e pedi um chá. Quem chega como visitante usa muito o chá de coca.

– Por favor, pode me mandar um chá aqui para o meu apartamento?

– Na horita vai.

Foi a resposta que veio de uma mulher que trabalhava à noite na recepção do hotel. E nada de o chá chegar no meu apartamento. Eu ligava para a portaria e a resposta era sempre a mesma:

-Na horita vai.

Eu sei que este “na horita vai” virou a noite e o meu chá não chegou. Com  muita dificuldade, consegui dormir. O meu colega Itajaí não teve problemas, mas os amigos Nogueira e Rocha também sentiram falta de ar.

No dia seguinte, saímos para tomar café, pois o hotel não servia e a orientação que nós tínhamos era andar devagar, evitar subir escadas e ladeiras e não pegar peso.

Seguimos essas orientações, fomos fazer o credenciamento na Federação Boliviana de Futebol e no domingo fomos para o estádio Hernando Silles, local da partida.

Itajaí fez o jogo para a Rádio Sociedade (Rede Baiana de Rádio), Nilton Nogueira e Silva Rocha para a Rádio Sociedade e participei da jornada da Rede Brasileira. Ainda bem que naquele dia eu não iria narrar, pois não sei se conseguiria.

O efeito da altitude me pegou em cheio. Fiz apenas reportagens, pois o narrador era Eduardo Anuzek e o comentarista o nosso líder do grupo, Barbosa Filho.

Aquela foi uma partida válida pela segunda rodada das eliminatórias Sul-Americanas. Já tínhamos feito o jogo da Seleção Brasileira contra o Equador, em Guayaquil, quando houve empate por 0 a 0.

O futebol boliviano sempre foi muito inferior ao brasileiro. Em jogos anteriores, goleadas histórias aconteceram, Mas naquela tarde do dia 25 de julho, a Bolívia entrou em campo motivada porque vinha de uma vitória incrível de 7 a 1 sobre a fraca Venezuela. E o jogo foi realizado fora de casa.

O Brasil defendia uma invencibilidade nesta competição de 31 jogos, sendo 24 vitórias e 7 empates. Contra os bolivianos foram 5 vitórias e apenas um empate.

Mas nesse dia, deu tudo errado. A comissão técnica levou tubos de oxigênio para o estádio, mas muitos jogadores sentiram a altitude (4 mil metros) e o resultado foi uma derrota por 2 a 0.

Além da preocupação com a altitude, ainda tivemos de encarar a gozação dos torcedores que faziam um verdadeiro Carnaval pelas ruas de La Paz. Afinal, foi a primeira vitória sobre o Brasil.

O time brasileiro que jogou foi Taffarel; Cafu, Válber, Márcio Santos e Leonardo; Mauro Silva, Luís Henrique (Jorginho, entrou no intervalo), Raí (Palhinha, foi a campo aos 30 minutos do segundo tempo) e Zinho; Bebeto e Muller, se vingou no jogo de volta, realizado em Recife, quando 0 Brasil aplicou uma histórica goleada por 6 a 0, no dia 29 de agosto no estádio do Arruda.

Além da derrota, tomei um tremendo de um susto. No dia seguinte, quando cheguei no aeroporto, El Alto, a pessoa que estava fazendo o check-in do voo disse que o meu nome não constava na lista.

Ah, galera, perdi a cabeça. Deixei de ser aquele cara sempre calmo e sai do meu normal. Como eu ficaria mais um dia naquela cidade? Foi ai, que veio o Nilton Nogueira mais calmo e também mais experiente, me pediu para ter calma.

Lembro que fiz uma ligação para o meu amigo Antônio Carlos Santana, da ACE Turismo, que ligou lá para o aeroporto e o problema foi resolvido e consegui viajar.

Depois da minha primeira experiência na capital da Bolívia, eu costumo utilizar a seguinte frase: “La Paz, jamais, meu rapaz”.

Marão Freitas

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