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Agruras do Vitória

Agruras do Vitória.

Quando vim  estudar em Salvador, nos idos de 1964, eu já era rubro-negro, torcedor do Flamengo,  muito influenciado pelo tricampeonato do Flamengo de 1953-54-55,   quando ouvíamos no rádio – não havia televisão nem havia rádio de pilha a época- as vitórias, o sucesso daquele time rubro negro que contagiava a todos Brasil afora, inclusive na minha cidade de Aracaju.

Representações do escudo  do Flamengo eram vistas nos adereços de bicicletas dos meus primos maiores tais como no acolchoado do assento, ou no  espelho retrovisor e assim por diante.

Chegando a Salvador  foi natural então que eu optasse  pela torcida do Vitória haja vista as suas cores rubro-negras.

Com o passar do tempo e minha exposição mais ampla de caráter nacional,  foi natural que eu desenvolvesse progressivamente um sentido mas bairrista como resultado das reuniões com os colegas de outros estados do Rio de Janeiro,  São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco  e a necessidade de posicionar bem as coisas do estado onde eu vivia, a  Bahia,  e então progressivamente eu me tornei mais Vitória do que Flamengo e eventualmente tornou-se no que sou hoje em dia,  um exclusivo torcedor do Vitória.

Sempre que possível assisto  as suas atuações,  geralmente pela televisão,  já que há anos que não frequento estádios,  função principalmente da delimitação do tempo e da falta de flexibilidade do tempo quando se tem o compromisso de ir ao estádio.

Meus  filhos criaram-se nesse ambiente e na sua infância o Vitória era muito bem-sucedido e são  torcedores ainda mais autênticos do Vitória. Como os autênticos torcedores de raiz que conheço como Luiz Martins  Catharino Gordilho Filho, José Carlos Brito, Eugenio Carvalho entre outros.

Ontem à noite , 16 de abril,  sábado da Semana Santa,  procurei assistir a segunda partida do Vitória  na série C do Campeonato Brasileiro.

Não presenciei, porém tomei conhecimento de que na primeira partida do Vitória,  contra o Remo, no Pará,  em meio a um campo encharcado de água e más condições,  o Vitória perdeu na estreia do campeonato.

A partida de ontem então foi a sua segunda , contra o Floresta,  um time do Ceará que era amador há poucos anos e que subiu da serie D.

Como os jogos da série C não passam nos canais habituais de televisão eu me inscrevi num programa a parte, DAZN,  que me permitiria tal acesso a tais  partidas.

Assim  assisti ao jogo realizado no estádio oficial do Vitória, um bom estádio, chamado Barradão, com um público e uma torcida do Vitória num número muito razoável e, eu diria,  inesperado para o dia, o horário e o fato de que o Vitória estava na série C,  na segunda partida,  tendo perdido a primeira.

Um público do Vitória como de costume muito entusiasmado- e o que vimos?

Um time com 3 zagueiros, 5 jogadores de meio campo e 2 atacantes.

Em  cada uma dessas linhas nada  despontava chamando a atenção para qualidades específicas dos jogadores.

Uma defesa um tanto vacilante e que não distribuía bem as bolas,  um meio campo que não construía jogadas e um ataque inoperante.

Não houve durante uma boa parte do tempo uma única ameaça concreta ao gol do adversário. Há ainda  de se registrar que o juiz, menos experiente, como o de ontem,  começou a distribuir cartões amarelos muito cedo na partida o que levou a que, numa jogada até duvidosa, ele apresentasse o segundo amarelo e,  portanto,  a expulsão de um defensor do Floresta,  poucos minutos após o início da partida.

Então  o Vitória se deparava com a oportunidade de lidar com um time com 10 jogadores desde o início do primeiro tempo.

Isso não alterou, a rigor,  a qualidade do que se viu nas ações do Vitória.

E, de uma maneira surpreendente, numa falta cometida a cerca de 35 metros  frontal  ao gol do Vitória,  um lateral esquerdo, Fábio Alves,  desferiu um petardo,  com uma barreira mínima e fazendo lembrar dos chutes que eram feitos por um outro lateral esquerdo,  provavelmente o maior do mundo,  o Roberto Carlos, do Real Madrid, e fez o gol.

Que a meu ver  o goleiro deveria sempre  lamentar ter permitido entrar pela distância do chute.

A partir daí, com 11 jogadores contra 10 , o que se viu foi um  certo desespero,  uma falta de objetividade concreta e os chutes que eventualmente eram alçados a meta geralmente eram  muito distantes desta, geralmente muito altos,   demonstrando uma falta de qualidade na pontaria dos mesmos.

Essa partida se arrastou lentamente até o seu final deixando entre nós torcedores do Vitória uma sensação muito desagradável de inadequação técnica do nosso time e a perspectiva ameaçadora da chance de ser  rebaixado da série C para série D, de difícil retorno.

Mas no futebol,  assim como em muitas coisas da vida,  deve-se  colocar a crença em valores aparentemente inatingíveis,  pois em muita delas,  essa força levará a sua concretização.

A evolução da sociedade contemporânea torna cada vez mais necessária a visão empresarial para as atividades em geral inclusive nas artes, como é o caso do futebol.

Alguns chegam a manifestar a perda do interesse no esporte desde que acabou o amadorismo.

Finanças nem sempre obscurecem o real valor da arte. Uma obra musical de grande sucesso financeiro, ainda assim pode ser plena em mensagens humanistas.

A crença no  Vitória, mesmo que um time tão prejudicado como está neste momento,  não nos levará a arredar  pé da sua torcida e continuaremos a ajudar o mesmo,  mesmo que modestamente,  em suas campanhas promocionais.

Assim é a vida, vamos seguir em frente,  saudações rubro-negras, cheias de preocupações com o futuro do nosso Vitória.

 

Gilson Feitosa é médico cardiologista

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