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O dia em que não devia passar na “encruzilhada”. Mas esqueci e passei

Fui criado por pais católicos e minha vida inteira sempre esteve ligada à Igreja Católica Apostólica Romana. Mas sempre respeitei as demais religiões, entendendo que cada um segue a que mais lhe agrade.

Sempre respeitei os chamados pais de santos, as rezadeiras, os videntes, os leitores(as) de cartas, mas nunca fui de acreditar nestas previsões, algumas fora de qualquer sentido. Mas sempre respeitei os que acreditam.

Numa certa oportunidade, na década de 80, estava conversando com o meu grande amigo e compadre, Agripino Franco, atualmente morando na cidade de Aramari, a sua terra natal.

Um determinado dia, batendo papo, o AGP me disse:

– Compadre, dizem que tem uma mulher ali perto do Largo da Lapinha que costuma ler a mão de várias pessoas. Topa ir lá?

– AGP, não sou muito chegado a essas coisas. Mas se você quiser a gente vai. De boa.

– Então, vamos combinar um dia e iremos.

– Tudo bem.

O meu compadre sabia quem tinha o número do telefone desta “rezadeira” (nesta época não existia telefonia celular) e marcou para irmos lá numa determinada tarde de uma quarta-feira.

Lembro do dia da semana porque neste dia eu estava escalado para dar o plantão no Jornal da Bahia. Fazíamos um rodízio, e naquela quarta-feira era o meu dia de trabalhar, à noite, para divulgar os resultados dos jogos.

Deixamos o meu carro na sede do jornal, que funcionava na Barroquinha, e nos dirigimos no carro do Agripino para a “consulta” com a tal “rezadeira”, próximo ao Largo da Lapinha.

– Quem vai ser atendido primeiro, AGP? Perguntei.

– Você está com medo?

– Não. Só ansioso, pois nunca tive uma experiência igual.

Então, compadre, deixe que eu vou na frente. Concordamos e assim foi feito. Fiquei do lado de fora da sala e o Agripino foi para a “consulta”. Esperei por uns 20 minutos e ele me disse:

– É tranquilo. Pode ir com calma, você vai gostar.

Entrei para conversar com a senhora. Ela me fez algumas perguntas, se estava havendo alguma coisa errada comigo, e o que eu pretendia. Confesso que fiquei meio sem jeito, mas fui respondendo.

Acho até que a minha “consulta’ demorou mais do que a do meu amigo. Lembro que a mulher pegou pipoca jogou em cima do meu corpo, pegou umas folhas e disse que eu ficasse tranquilo.

Na saída ela fez uma observação e disse:

– Vou fazer questão de avisar a vocês dois. Não passem na “encruzilhada” hoje.

Eu não sabia o que era aquilo e perguntei:

– O que é não passar na “encruzilhada”?

– Meia noite vocês dois têm de estar em casa. E estou avisando aos dois que é para um lembrar ao outro. Por favor, não esqueçam. Isso é muito importante.

Ok, sem problemas. Os dois responderam.

Entramos no carro e fomos conversando sobre a “consulta”. Os dois tiveram pontos de vista em comum: nada demais. Parece que todas têm um mesmo discurso pronto para os “clientes”.

O Agripino me deixou na Barroquinha e, como era dia do meu plantão, fiz um lanche e nem passei em casa deixando para ir somente depois de terminada a minha jornada de trabalho.

Nos despedimos e ele seguiu para trabalhar em suas lojas. Ele era o proprietário de a Garota Bomboniere, uma das mais famosas no ramo aqui em Salvador.

Tudo certo. Trabalhei, normalmente, no jornal, fiz as matérias que tinha de fazer mais cedo e fiquei esperando acabar os jogos para divulgar na edição do jornal do dia seguinte.

Quando terminei de trabalhar, era mais de meia-noite. Peguei meu carro e estava indo para casa. Nesta época, eu morava na Rua Bela Vista do Cabral, no fim de linha de Nazaré.

Galera, somente quando cheguei na Rua da Independência, me lembrei do que a “rezadeira” falou: “Não passe na “encruzilhada”. Meia-noite, vocês têm de estar em casa”.

Como falei, nunca fui muito de acreditar nestas previsões. Mas confesso que as minhas pernas tremeram. Olhava toda hora para o relógio, olhava para os lados e torcia para chegar logo em casa.

Ufa, e finalmente cheguei. E cheguei bem e em paz. Não segui as orientações da “rezadeira”, mas por absoluta falta de lembrança. E confesso que foram 15 minutos de apreensão, da Rua da Independência, onde me lembrei da orientação que recebi, até chegar em casa.

Marão Freitas

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