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Um fantástico vídeo cassete: uma multa e um favor do amigo Márcio Santos Souza

Na atualidade, o vídeo cassete está fora de moda. Muitos jovens não sabem nem o que é este aparelho, que na década de 90 fez muito sucesso. Com este equipamento, podíamos assistir filmes, alugados em locadoras, ou até mesmo comprando em lojas do ramo, gravar programações das televisões locais, jogos de futebol. Tudo.

Enfim, o vídeo cassete, que ainda pode ser encontrado (porém não é mais fabricado) fez sucesso na sua época. Geralmente quem viajava para Manaus, recebia vários pedidos para comprar um por lá na Zona Franca, porque o preço era bem mais barato.

Atualmente, já não existe vantagem de se comprar nenhum produto importado na capital do Amazonas. A Zona Franca já não é tão “franca” como no passado, e os preços não compensam o sacrifício de se trazer objetos importados.

Em 1997 fui convidado pelo amigo Antônio Carlos Santana, proprietário da agência de viagens, ACE Turismo, para fazer uma viagem aos Estados Unidos.

Ele recebeu um convite do representante da extinta LAP (Linhas Aéreas Paraguaias) para um fantour em Miami. Fantour é uma forma de promover e familiarizar um produto turístico.

-E ai, Marão? Topa ir dar um passeio em Miami?

-Claro, parceiro. Quanto tempo vai durar a viagem?

-Cinco dias. Posso confirmar o seu nome?

-Claro. Pode.

-Então, me passe o número do seu passaporte.

Pronto. Tudo definido. Afinal, uma viagem aos Estados Unidos, e com  tudo pago (passagem e hospedagem), não é todo dia que a gente consegue. E também não é um convite para se desprezar.

Com o dólar em baixa. Naquele ano de 1987, a cotação da moeda americana representava quase o mesmo valor da nossa moeda naquela oportunidade.

Da Bahia fomos apenas eu e o amigo Santana. No total, fomos em uma delegação de 10 pessoas. O restante do grupo era de São Paulo e do Paraná.

E fazer compras em Miami era oportunidade impar. Gravadores, vídeo cassetes, forno micro ondas. É verdade que havia um limite para o passageiro passar pela Alfândega quando chegava de volta ao Brasil.

Lembro que naquele ano, a Panasonic estava lançando um vídeo cassete fantástico. Com seis cabeças de gravação, um controle remoto incrível. Só que o preço ultrapassava o limite do que eu podia entrar de volta no Brasil.

Mas ao entrar em uma das lojas do comércio de Miami, não me contive.

-Santana, vou comprar esse vídeo. Caso eu seja parado na Alfândega vou ter de pagar uma multa violenta. Mas não vou perder essa oportunidade.

-Está disposto. Encare. Jogue duro.

O amigo me incentivou e eu comprei o equipamento. Além de comprar outros produtos importados, como forno micro 0ndas, gravador. Fiz a festa, literalmente.

Voltamos pelo aeroporto de São Paulo. E a vistoria era feita pelo sistema de amostragem. Tinha um equipamento que apitava no instante em que você passava.

Caso não fosse acionada o sinal eletrônico com a luz vermelha, o passageiro passava direto. No minha hora, olha o que aconteceu: a luz vermelha acendeu e sinal eletrônico soou.

Uma senhora pediu para eu abrir as minhas malas e viu que eu estava trazendo um potente vídeo cassete, que ainda nem estava sendo comercializado no Brasil.

A funcionária chamou o supervisor e ele me perguntou:

-Quanto custou?

Confesso que tentei utilizar a “malandragem” do brasileiro e respondi.

-Olha aqui senhor. Eu fiz uma permuta com uma lojas lá de Miami. Sou radialista de Salvador e divulgarei os comerciais da loja no meu programa esportivo.

-Você está de brincadeira comigo, não é?

-Não. É que o dono da loja é um amigo baiano e mora em Miami.

-Vamos fazer o seguinte. Vou calcular a sua multa e você paga ali no guichê.

-O problema é que também estou sem dinheiro

-Não tem problema pode deixar ai, que colocamos para leilão.

E o cidadão foi saindo. Vi que não tinha jeito. Ou pagava a multa ou deixava o meu vídeo cassete para ser leiloado. Conversei mais uma vez com a fiscal que fez a vistoria na minha mala e ela disse.

-Vou tentar conseguir com o supervisor para que ele dispense a multa sobre o valor do controle remoto.

O cidadão concordou e ela extraiu a minha multa. Só que eu tinha de pagar na moeda brasileira da época, dólar ou cheque do Banco do Brasil. E eu não tinha nada disso. E falei para a fiscal.

– Você já teve a multa do controle liberada, ou paga este valor sobre o vídeo ou vai deixar. E você tem agir rápido. Aqui não podemos perder tempo.

Foi ai que tive a ideia. Lembrei do meu grande amigo, Márcio Santos Souza, ex-diretor do Bradesco Turismo, hoje radicado em São Paulo, filho do meu saudoso e também grande amigo, Coronel Getsemani Galdino.

Pedi a uma pessoa aqui em Salvador que fizesse uma transferência para a conta de Márcio e este fez uma ordem de pagamento para agência do Banco do Brasil, no aeroporto de Guarulhos.

Peguei o dinheiro e paguei a multa. Não recordo o valor, mas sei que foi bem superior ao do próprio equipamento. Um favor que jamais vou esquecer do meu amigo, Márcio Santos Souza. Aliás mais um, dentre tantos outros que ele me fez. E como sou grato, como dizia o meu velho e saudoso pai, Pedro, vou levar para a minha sepultura.

Marão Freitas

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