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Um passeio (turístico) pelos cemitérios de São Paulo

A minha primeira viagem para fora da Bahia foi no ano de 1966. Fui com o meu irmão, Madinho, a mulher dele e o filho, o meu sobrinho, Paulo Aquino, para São Paulo.

Lembro que saímos de Feira de Santana num Fusquinha com destino a São Paulo. No primeiro dia, viajamos até Governador Valadares, em Minas Gerais, e no dia seguinte seguimos até a capital paulista.

Dormimos num hotel em Valadares e logo de saída tomamos um susto. O cara da recepção falou que estava tendo muito trabalho naquela hora devido a um colega de trabalho.

– Rapaz, isso é sacanagem. O colega sabe que tinha muitas reservas aqui no hotel e até agora não chegou.

Para nós foi uma surpresa o cara falar sacanagem na presença de uma mulher. Antigamente, era um tremendo de um palavrão, mas para os mineiros foi apenas brincadeira ou uma coisa mal feita.

O meu irmão achou estranho, pensou em reclamar com o cidadão, mas deixou para lá. Queríamos, mesmo, era descansar depois de um dia de muita estrada. Mais de 900 quilômetros.

E no dia seguinte, tínhamos uma nova e longa jornada pela frente. Era mais ou menos a mesma distância até São Paulo, pois a viagem foi dividida em duas etapas.

Acordamos cedo para tomar café. Nunca esqueci que fui pegar um pão numa cesta colocada em nossa mesa e o meu sobrinho, na época com sete anos, caiu “matando” em cima de mim.

– Você é ladrão de pão, é? Esse aqui é meu.

– Tá certo, Paulinho. Tem mais ali.

Tomou da minha mão e eu aceitei. Afinal, foi coisa de um menino ainda muito jovem. E depois do café, pegamos a estrada. A única via para o Sul do Brasil era a BR 116, pois a BR 101 ainda não existia.

Na parte de Minas da estrada, muitas ladeiras e movimento grande de caminhões. Não como hoje, mas era preciso muita atenção na pista que, por sinal, era única.

Mais ou menos por volta das 20 horas, entramos em São Paulo. Estávamos na Marginal Tietê e não sabíamos onde ficava o Instituto Previdência, bairro onde moravam os tios da minha cunhada e para onde tínhamos de nos dirigir.

Foi ai que o meu irmão teve uma sacada legal. Viu um carro da Polícia Militar e decidiu perguntar o que devíamos fazer para chegar ao nosso destino. E um dos guardas respondeu:

– Nossa, vocês estão muito longe.

– E o que devemos fazer? Perguntou meu irmão.

– Segue nós, respondeu o policial.

E não é que os caras, com uma tremenda de uma boa vontade, foram nos levar no bairro. Nos deixou a 5o metros da rua para onde estávamos indo, naquela noite na grande São Paulo.

Antigamente, sem telefonia celular, as coisas eram bem mais difíceis. Mas conseguimos chegar bem, principalmente depois da ajuda dos policiais, após uma longa jornada de mais de 900 quilômetros.

A nossa programação era passar uns dez dias em São Paulo. Na época o marido da tia da minha cunhada, Antônio Botinne, era motorista do serviço funerário de São Paulo.

Ele saia cedo de casa no seu carro particular, se dirigia para a secretaria onde era lotado, pegava uma Kombi e saia com o roteiro para recolher os mortos e levar para os cemitérios. Isso, diariamente.

Logo no dia seguinte, ele me convidou para ir com ele. Era uma boa oportunidade para conhecer alguns lugares de São Paulo. Mas em função da viagem, estava muito cansado e deixei para ir no outro dia.

E pronto: depois de um dia, praticamente, descansando da longa viagem, saí em companhia do Sr. Botinne  para “fazer” os enterros em São Paulo.

Foi um verdadeiro passeio turístico funerário. Percorríamos, em média, de 100 a 120 quilômetros por dia, fazendo os enterros. E fiz isso durante três ou quatro dias.

Uma experiência um tanto quanto exótica, mas valeu a pena, pois logo na minha primeira ida a São Paulo pude conhecer muitos bairros da maior capital brasileira.

Marão Freitas.

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