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Uma fantástica decisão no Morumbi

Em 1983 eu trabalhava na equipe esportiva da Rádio Clube AM 1290. A equipe era comandada pelo saudoso Juarez de Oliveira, um dos maiores narradores que o rádio baiano já teve.

Naquela época, o Campeonato Brasileiro era disputado no sistema mata mata. Os oito primeiros classificados disputavam em quatro grupos de dois, até que fosse conhecido o campeão.

E naquele ano chegaram para disputar a final, Flamengo e Santos. Por ter feito melhor campanha, o time carioca tinha o direito de fazer a final no Maracanã.

Na terça-feira da semana do primeiro jogo, Juarez me chamou e disse:

– Mário, caia em campo e venda as despesas das duas finais do Campeonato Brasileiro. Você viaja para São Paulo e de lá vai para o Rio.

– Oh, Jura, eu topo, mas porque você não faz a final no Maracanã?

– Rapaz, eu tenho um problema para resolver e talvez não possa ir.

– Caso você queira, eu fico direto para fazer os dois jogos.

Foi aí que eu tive uma ideia, porque na realidade Juarez de Oliveira fui um cara sempre muito leal comigo, quando me tirou da Rádio Excelsior e me levou para a Rádio Clube, cumprindo tudo o que tinha me prometido.

– Jura, vamos fazer o seguinte: eu faço o primeiro jogo, volto, e se você não puder ir para o jogo do Maracanã, eu vou.

– Então, está certo assim.

O primeiro jogo foi realizado no dia 22 de maio, um domingo. Viajei na sexta-feira para São Paulo e o repórter foi o Martinho Lélis, que só viajou no sábado.

No domingo, ainda no final da manhã, fomos para o Morumbi. Afinal, era um jogo de casa cheia e tínhamos de chegar bem cedo no estádio para arrumar o nosso equipamento de transmissão.

Contratamos um operador, chamado Capeeta, que trabalhava na equipe esportiva da Rádio Bandeirantes, mas precisávamos chegar bem cedo, mesmo assim.

E, apesar de ser um estádio enorme, todas as cabines para emissoras de rádio do Morumbi estavam lotadas. Tive de fazer a narração do jogo num local reservado para a imprensa e, ainda assim, perto dos torcedores. O que na realidade nunca é bom.

E diante de um público de 114 mil, 481 torcedores, a bola rolou, às 17 horas, com arbitragem de José Assis de Aragão. Árbitro que, por sinal, apitou na Federação Bahiana de Futebol, na época do saudoso presidente Carlos Alberto de Andrade.

E a galera do Santos foi à loucura, quando aos 23 minutos do primeiro tempo, Pita fez 1 a 0. A torcida que estava em nossa frente se levantava e tínhamos de nos “virar” para conseguir narrar o jogo.

E no segundo tempo, aos 18 minutos , outra vez o delírio tomou conta do estádio do Morumbi. Serginho Chulapa fez 2 a 0, o que àquela altura era um passo decisivo para a conquista do título, embora ainda tivesse um outro jogo para ser disputado no domingo seguinte, no Maracanã.

Mas a alegria da torcida do Santos durou pouco. Quatro minutos depois, Baltazar diminuiu para o Flamengo e tornou o jogo emocionante até o final.

Foram gols perdidos de parte a parte. Emoção em cima de emoção, numa das finais mais fantásticas de Campeonato Brasileiro, no antigo sistema de mata mata.

Naquela tarde, comandado por Formiga, o Santos que jogou com Marola, Toninho Oliveira, Márcio, Toninho Carlos e Gilberto Sorriso; Lino, Paulo Isidoro e Pita; Camargo depois Paulinho Batistoto , Serginho Chulapa e João Paulo, levou a vantagem do empate para a grande final do Maracanã.

O Flamengo que jogou com Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Bigu, Adílio e Zico: Elder depois Bebeto, Baltazar e Júlio César depois Robertinho, comandado por Carlos Alberto, o capitão do Tri do México, uma semana depois, venceu por 3 a 0 e ganhou pela terceira vez o Campeonato Brasileiro de futebol.

E como tínhamos combinado, coube ao saudoso Juarez de Oliveira a transmissão deste grande clássico, que levou ao então maior estádio do mundo um público de 155 mil, 523 torcedores.

Marão Freitas

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