No início da década de 80 eu fui contratado pela Rádio Clube (AM 1290). Já contei que o Juarez de Oliveira me levou para dividir a apresentação da resenha do meio-dia com ele, e narrar jogos de futebol na equipe esportiva, em igualdade de condições com ele e com o Sílvio Mendes. E eu estava numa boa situação na Rádio Excelsior (AM 840), mas a proposta foi irrecusável.
Armando Marini (atualmente na Rádio Excelsior apresentando o programa “Acorda Pra Vida” junto com Almir Santana) era o diretor de programação da emissora. E naquela época normalmente só existiam jogos de futebol às quartas-feiras e aos domingos. Esporadicamente ocorria um jogo às quintas-feiras ou às terças-feiras.
Para preencher a programação noturna da rádio, Mariani teve uma ideia: pediu para que cada um dos locutores da Rádio Clube gravasse uma seleção com as suas músicas preferidas.
Depois, Mariani decidiu entregar a programação noturna para mim e para o Enaldo Rodrigues, que era um dos comentaristas da equipe esportiva, ao lado de Luiz Eugênio Tarquínio. Os dois já nos deixaram, faz alguns anos.
E fomos apresentar “Os Amigos da Noite”, por sinal um nome bem sugestivo. Já contei também sobre a força que dei no início da carreira de Mara, na época a “Miss Mara” e que depois virou “Mara Maravilha” e hoje faz sucesso pelo Sul.
Quem constantemente ia no meu programa era o meu amigo Fernando Cabús. Além de falar de futebol (depois o lancei como comentarista na Rádio Excelsior) ele falava muito sobre economia. Atualmente, ele apresenta o programa Manhã Excelsior na Rede Excelsior de Comunicação, das 8 às 9 horas, na FM 106.1.
Num determinado dia, o Fernando não pode ir e a “Mara Maravilha” também não apareceu. Sem eu esperar, quem apareceu por lá foi o meu inesquecível, saudoso, AMIGO, compadre e parceiro, Amauri dos Santos Alves, o Mamau.
Ele trabalhava no Banco do Brasil e como a família estava em Santo Amaro ele ficou alguns meses morando lá em nossa casa. Nesta época, eu morava na Rua Armando Tavares, na Vila Laura, no Matatu.
Entre uma música e outra, intervalos comerciais, ficávamos batendo papo, colocando a conversa em dia. De repente, o porteiro da Rádio Clube, o Arnóbio, interfonou para mim.
– Mário Freitas, Cristina, uma argentina, está aqui para falar como você.
– Comigo?
– Sim. Ela disse que lhe ouve todos os dias e gostaria de assistir o programa ao vivo.
– Por favor, coloque ela para falar comigo aí no interfone.
Depois de um rápido papo, falei para o meu amigo Mamau que ia mandar a argentina entrar. Lembro que ela disse se chamar Cristina. Arnóbio a trouxe até o stúdio, onde estávamos fazendo o programa.
E na realidade, era uma jovem bonita, cabelos aloirados, e começamos a bater papo. Ela me disse que gostava muito do programa e como estava sem fazer nada, resolveu ir lá para me conhecer.
O tempo foi passando, já se aproximando da meia-noite (deste horário até uma hora da madrugada o programa era gravado) resolvi convidá-la para jantar, junto com o Amauri.
Como já era tarde, as opções eram poucas. Decidimos então ir para um restaurante que existia no alto de Ondina, que por sinal foi muito famoso aqui em Salvador .
Só que no trajeto da Rádio Clube para o restaurante, a Cristina começou a falar português. Deixou de lado o espanhol. Achei estranho, e ela falou que era fã da TV Itapoan, gostava muito de assistir os programas de Chico Queiroz e Fernando José.
Achamos estranho, mas seguimos para o nosso destino. E eu nem perguntei se ela era argentina mesmo, porque visivelmente ela era brasileira. Não sei porque ela quis se passar por uma argentina.
Chegamos no restaurante, jantamos e depois a deixamos na Avenida Marquês de Caravelas, na Barra. Lembro que pouco antes dela saltar do carro, eu perguntei:
– Cristina, você não tem medo de sair sozinha, à noite, numa cidade tão violenta como Salvador?
Ela abriu a bolsa, nos mostrou um revólver e disse:
– Olha aqui o que eu tenho para quem tentar fazer alguma coisa comigo.
Eu e o Mamau nos assustamos, deixamos ela em casa e nunca mais ouvi falar daquela “argentina”, que uma noite foi me conhecer no programa “Amigos da Noite”, na Rádio Clube.
E depois ficamos pensando… Imagine se o meu compadre Mamau não estivesse por lá? Caso eu resolvesse sair sozinho para jantar com ela o que poderia ter acontecido comigo?
A noite em que o meu AMIGO, Amauri dos Santos Alves, pode ter me livrado de entrar numa “fria”, foi mais uma das histórias que aconteceram comigo , nesta longa história no rádio.
Marão Freitas.