Search
Close this search box.

O dia em que ajudei a colocar um cavalo dentro de um cinema em Santo Amaro

Os primeiros anos da minha vida passei em Santo Amaro da Purificação. Quando eu ainda era muito menino, a minha família se mudou para Salvador. Os meus pais entenderam que na capital era melhor para que todos os sete filhos prosseguissem com os estudos.

Confesso que vim contrariado, pois o meu objetivo era continuar na “terrinha”, curtindo coisas de crianças com os meus amigos da época. Preferia mesmo era ficar morando na minha terra, jogando babas, pulando muros atrás de frutas e indo para as matas caçar passarinhos. Mas não tive alternativa.

No ano de 1956, a nossa família se mudou para Salvador, e nossa primeira residência aqui na capital foi no bairro do Barbalho, na Rua Felisberto Caldeira, também conhecida como Rua da Matança.

Mas no ano seguinte, fiz um apelo aos meus pais e voltei para morar com o meu quarto irmão (o Madinho), em Santo Amaro, que estava estabelecido, como comerciante por lá, e não veio com o resto da turma para Salvador.

Era tudo o que eu queria. Voltei e fui  estudar na Escola Dr. Bião, e lembro de alguns colegas como o meu saudoso compadre, Amauri dos Santos Alves (o Mamau), Vicente Mesquita, Nelsinho Guimarães, Dagoberto, entre outros.

Na época, o meu pai (Pedro) era dono do Cine Santo Amaro, que ficava localizado na Praça da Purificação. Com a chegada da televisão, poucos cinemas sobreviveram no interior.

Mas naquele tempo, Santo Amaro conseguia ter três cinemas. Além do que pertencia ao meu pai, existiam o Cine Subaé, que pertencia ao Sr. Manoel Marques, que depois se tornou Prefeito da cidade, e o Cine São Francisco, que pertencia ao Círculo Operário, uma congregação católica local.

Alguns fatos marcaram a minha infância no velho e tradicional cinema. Numa determinada oportunidade, estava com o Mamau e outros amigos sentados em um dos bancos da praça.

De repente, vimos um cavalo pastando pela grama. Não lembro de quem foi a ideia:

– Oi turma, vamos colocar aquele cavalo dentro do cinema.

Um dos que estavam no grupo levantou a ideia de que isto poderia causar algum tipo de problema. Mas foi voto vencido e decidimos colocar o cavalo dentro do cinema.

A sessão ia começar às 20 horas. Por volta das  19 e 30, começamos a cercar o cavalo e o colocamos para dentro, pelo portão principal. Como existiam duas portas laterais, mas eram muito estreitas, a solução era guiá-lo mesmo, para o portão principal.

A senhora que vendia os bilhetes era Dona Maura. No instante em que ela viu o cavalo entrando no cinema, largou o seu posto e saiu gritando:

– Meninos, vocês não têm o que fazer não?

E saiu correndo para a Praça da Purificação. De repente, o Lourival, que era o operador responsável pela exibição dos filmes, começou o seu trabalho para tirar o cavalo de dentro do cinema.

Como neste dia existiam poucos espectadores na plateia, apenas uns dois ou três chegaram para ajudar o Lourival, que era conhecido como Capenga, porque tinha um defeito na perna e andava mancando, a tirar o animal do cinema e colocá-lo para a rua outra vez.

O meu irmão, Madinho, era o gerente do cinema, e quando soube do fato correu para o local e procurou saber quem tinha sido o responsável por colocar o animal dentro do cinema.

A esta altura, eu e os meus amigos já estávamos distante do local e nos limitamos a dar risadas. Mas logo todos nós responsáveis pela “brincadeira” fomos identificados.

– Vou proibir todos de entrar no cinema. Isso é coisa que se faça? De repente, vocês poderiam ter causado até um problema com a Dona Maura.

E todos que naquela noite na querida Santo Amaro da Purificação colocaram um cavalo no Cine Santo Amaro foram suspensos por 15 dias de entrar para assistir filmes.

E lembro que perguntei ao meu irmão:

– Até eu, Madinho?

– Você também. A justiça começa dentro de casa.

E tive de aceitar a suspensão, junto com os meus parceiros e amigos. Colocar um cavalo dentro de um cinema foi uma das peraltices que cometemos na nossa infância em Santo Amaro da Purificação.

Marão Freitas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *